O MUNDO DE MÃOS ESTENDIDAS

Nas viagens de aventura ficamos sempre com o olhar muito apurado para tudo o que acontece. É como se os olhos ficassem mais abertos. Os acontecimentos repercutem muito no nosso interior e geram reflexões mais profundas do que as que temos quando estamos no ritmo da cidade.Eu jamais imaginaria que um absorvente íntimo, por exemplo, pudesse trazer magia para um momento. Pois na minha primeira viagem ao Monte Roraima, entre todas as coisas lindas que vivi, uma delas foi graças ao absorvente interno. Acredite!…

Depois de três dias de muita caminhada, suor, dores pelo corpo, chuva pelo caminho e noites na barraca, chegamos, felizes e realizados, ao topo do Monte Roraima (a sensação de vitória é incomparável e cada dorzinha vale incrivelmente a pena). Nossos olhos não acreditavam na beleza que viam e meu grupo de 11 pessoas comemorava só de se olhar. A euforia era evidente.

Pelo caminho conhecemos um casal que estava com um guia venezuelano: ela era brasileira de São Paulo e o marido era argentino. Chegaram ao topo antes de nós e quando caminhávamos para nosso acampamento vejo a moça me gritando naquela imensidão de pedra bem do alto de uma rocha.

– Paula! Paula! – ela gritou e eu pensei “como sabe meu nome?”

– Sim!

Nossos gritos iam longe naquela vastidão do Monte.

– Eu queria te pedir uma coisa… você tem um absorvente? – E toda feliz porque tinha como ajudá-la, grito de volta:

– Sim! E tenho uma notícia melhor ainda, é interno!
Fomos uma ao encontro da outra.

Ela, toda saltitante descendo pelo caminho na minha direção e eu toda saltitante e orgulhosa indo na direção dela não me contendo de alegria por poder ajudar. Era uma alegria sem tamanho que só na montanha é possível viver. Onde mais eu viveria tanta felicidade ao presentear com absorventes internos? Foram vários abraços de muito obrigada e muitos abraços de que bom que ajudei você.

Nas trilhas, se estamos com qualquer dificuldade há sempre alguém para nos estender a mão. Se a pedra é muito alta, há uma mão para nos ajudar a subir. Se nos falta comida, há sempre alguém para dividir seu prato conosco. Se nos falta algum remédio para tratar uma ferida, o outro sempre tem algo em sua farmácia para compartilhar. Se os pés estão doloridos, há sempre uma massagem a ganhar. Se sabemos fazer yoga, como sabia uma grande amiga que ganhei nos caminhos do Roraima, a doce Flávia Schlittler, faremos juntos para que todos possam se alongar e ganhar mais conforto físico. Ninguém fica com menos, ninguém fica atrasado, todos ganham todo o tempo.

Escolhi viver num mundo de mãos estendidas. Sei que essa é a essência das pessoas e que se às vezes não agimos assim é porque estamos imersos num ritmo e num fluxo de coisas muito acelerado que nos cega e nos desconecta do nosso interior. Mas a essência é de mãos estendidas.Mãos estendidas fazem transbordar o que há de mais humano e mais rico em nós. Um mundo em que todos só têm a ganhar, um mundo em que compartilhar nos faz ter muito mais e não menos.

 

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