SE PERDER PARA SE ENCONTRAR sobre fluir como água que somos

A vida traz as experiências na dose certa com aquilo que a alma realmente precisa para crescer, já não tenho mais dúvidas nenhuma disso. Basta estar desperto para perceber a mágica acontecendo bem diante dos nossos olhos.

Eu e minha alma de mineira fomos treinados para a organização, para o “tem que ser assim”, e para o “tente não improvisar”, para o “siga nessa linha, por favor”. Algo se engessou em algum momento, e cá estou eu na busca por fluir. E a vida tem dado aquela força.

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Morar em Manaus me trouxe lições muito valiosas, muitas. Mas há uma lição que para a minha vida foi de longe a mais poderosa…

Manaus é uma cidade que nasceu sem muito planejamento, e por isso mesmo é comum encontrar ruas sem saídas, avenidas principais que são estreitas, casas que estão em lugares que até deus duvida. Se estamos bem aqui tendo uma conversa e um senhor resolve montar uma barraquinha de tapioca ao nosso lado, provavelmente ele vai montar, provavelmente vai ficar tudo bem e muito provavelmente em 5 minutos já vai ter gente fazendo um pedido.

Foi por isso que me apaixonei por Manaus, essa terra da espontaneidade, que me trouxe a preciosa lição de que mesmo no caos, tudo flui.

Para uma mineira que passou a vida organizando caminhos, modos de fazer, criando arranjos e “ajeitamentos”, Manaus foi um presente por trazer essa lição. Para os engessamentos da alma, ela é foi uma preciosidade.

Lá as pessoas são mais água do que em Minas, logo percebi. Talvez pela convivência com os rios de proporções amazônicas, se lembrem que somos 70% água e se adaptam com mais facilidade às situações inesperadas, ao próprio caos que se instaura, às dificuldades que a vida vai mesmo trazer. Fluem.

E quando estou em fluxo, em completa adaptação e integração com o que a vida trouxe, como que sou,  com o que o agora me reservou… como eu me sinto maravilhosamente bem.

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Quando visitei Veneza, na Itália, meus olhos só queriam olhar e olhar. Nos primeiros dias eu estava sem internet no celular e isso me impedia de usar meu google maps para circular pela cidade. E com os mapas turísticos eu não tinha chance, era uma completa negação.

Entre ruas, vielas e canais de água, entre gôndolas, turistas e cafés que pedem para sentarmos por um instante, fiquei por dez dias circulando pela cidade. Sempre que eu podia, pegava caminhos que não tinha pegado, entreva por ruas que não tinha experimentado, só para me perder.

Minha mente entra em estado de aceleração com o fato de estar perdida, mesmo quando faço isso voluntariamente. Controladora que é, quer saber o que virá depois, quer saber o mapa, quer saber o máximo que pode, só para assim evitar algum perigo logo ali depois da curva. É função da mente, entendo. Mas meu coração dizia… “vá, se perca por essas ruas, caminhe e se coloque em descoberta”.

Coração consegue acalmar a mente se formos com carinho e explicarmos direitinho.

E mesmo essa mente que quer proteger se rendeu aos encantos e à beleza que é explorar o momento presente, que é receber o que a vida vai nos reservando depois de cada curva.

Naqueles dias caminhando sem rumo por Veneza, tantas e tantas descobertas eu tive. Delícias que eu só comi…Lugares que eu só vi …Descobertas que eu só fiz graças a esse movimento de me perder de propósito. Ou melhor dizendo… de explorar as possibilidades e os caminhos… de me abrir para as descobertas.

Fluir é esse se abrir para o que vier, é esse estar aqui e tudo o que tenho estar no agora. Fluir é esse se liberar da mente protetora, é esse ouvir o coração. Fluir é esse completo integrar com o que a vida trouxe, com o que eu sou, como o que eu sinto. Sem negar nada, sem estampar nada como certo ou errado, sem evitar caminhos, sem esconder partes, sem achar que isso é feio ou bonito. É simplesmente fluir.

Em doses homeopáticas – e às vezes cavalares – a vida vai nos trazendo experiências valiosas para entrarmos no fluxo. Até que uma hora, sem mais explicações, lá estamos nós fluindo como água que somos.

Paula Quintão

13 de março de 2016

 

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0 Comments

  1. Rico Oliveira

    É mesmo um brinde esse seu texto, Paula: leve e fluido como o tema.
    Permitirmos nos perder pra nos encontrarmos é um triunfo.
    Que possamos fluir, fugir e nos achar. Abcs.

  2. Nádia Bouzas

    É tão engraçado como suas histórias se conectam com momentos equivalentes aos que estou passando…uma grande reviravolta, caí da mudança e estou perdida em mim mesma. E o mais interessante de tudo isso é que mesmo no meio de tudo isso uma certa hora encontramos o passo certo, encontramos a fluidez….ainda que em tropeços aos poucos vou me conectando de novo.
    Gratidão por acender uma luz no tunel. 🙂

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