A JORNADA E A ENTREGA

A vida nos coloca em caminhada, somos seres que seguimos em frente, avançando de paisagem em paisagem, clima em clima, às vezes subindo montanhas, às vezes descendo, outras criando pontes, e outras em momento de contemplação da vista que é. A vida é uma grande jornada e nós somos caminhantes.

Nesse percurso encontramos obstáculos, lugares lindos, abrigos seguros, alimentos para o corpo e para a alma. Encontramos flores, pedras, espinhos, rios a atravessar. Seguimos. Seguimos porque seguir é nossa missão, nossa única opção, nossa grande meta de vida, afinal.

Entre pedras e flores, além das belezas, aprendizados, transformações, é inevitável que a perna sinta cansaço, ou que a bota cause alguma bolha, ou que alguma passada mal feita nos faça torcer o pé, ou que a chuva torne o chão deslizante e nos faça cair de bunda, que algum galho nos raspe o braço e cause alguma ferida. Tal qual caminhar, ferir-se faz parte da vida. A ferida é parte da jornada.

Podemos ficar mais atentos à situação que a provocou, para evitar que numa próxima vez um novo ferimento seja causado. Mas nem de longe esse é o melhor meio para nos manter confiantes. Tentar prever feridas é uma forma de revestimento que nos paralisa, impede nosso movimento, atrasa nossa caminhada, gera bloqueios porque nem todo galho vai raspar seu braço, nem toda bota vai lhe causar bolhas, nem todo rio vai ter uma pedra solta que faça você torcer o pé, nem toda pedra vai deslizar. Cuidar-se é sempre muito bom, é uma das nossas tarefas, mas evitar a caminhada para não nos ferir não é possível. Temos que seguir adiante, nos entregarmos de corpo, alma e espírito ao caminho.

A entrega é a melhor forma de seguir a jornada sentindo-se em paz e em tranquilidade, porque só ela pode possibilitar a plena aceitação de que nada vai sair mesmo tal qual previmos e a plena confiança de que o caminho vai sempre nos trazer os instrumentos para tudo o que vivemos, o remédio para cada ferida, o alimento para cada momento.

Paula Quintão. 16/03/2013

 

8 Comments

  1. Silas

    Além disso, viver se protegendo não impede a dor de chegar. Afinal, ansiedade e medo já são dores. E, como dizia Schopenhauer, o Homem sofre muito mais do que os animais precisamente porque sofre por antecipação. Eu, por exemplo, sofro quando vou levar qualquer injeção apenas pela ansiedade. A agulha em si não chega perto da dor de ansiedade. Quer dizer, além da pessoa deixar de viver ela ainda sofre mais.

  2. Cesar Holanda

    Lindo texto Paula!!!
    …de nada adianta vestirmos couraças de proteção se estas atrapalharão o livre caminhar, dificultando a jornada e ainda impedindo que caminhemos com liberdade plena. Cada um carregando sua mochila de acordo com suas forças. Até pq os espinhos suportados, no caminho escolhido, são inevitáveis…pois nesta estrada não há só flores, muito ao contrario, pois se assim fosse, não haveriam feridas a serem curadas e, portanto, não haveriam lições a serem aprendidas. Temos q seguir adiante, com confiança e esperança, nesta bela jornada… como um pequeno córrego q corre em direção ao riacho, que desce em direção ao rio e por fim aportando no grande mar, após suportar inúmeras pedras e quedas neste longo caminho. Só assim somos todos um…BELA VITA….DULCE VITA…

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