A Morte, por Paula Quintão
A morte mexe com nossas dores profundas. A morte, com seu poder de nos relembrar nosso destino inevitável, vem com o peso da finitude. Em dias em que a morte caminha por perto, há um vazio silencioso, esse que se lamenta e ao mesmo tempo que se alerta.
Acontece que a morte nos ensina se nos permitimos aprender. A morte é a melhor professora do viver, guarda em seu portal infinitas lições – sim, infinitas, mas apenas se formos capazes de nos debruçar sobre seus ensinamentos como bons e atentos alunos.
Ouvi isso do Osho há muitos anos e ouvi de uma amiga durante o processo de morte da minha irmã: a morte é um portal e se olharmos bem para ela conseguimos enxergar as preciosidades que tem a nos entregar. Exige coragem. E abertura para… a vida.
Hoje entre os muitos aprendizados que coletei e sigo coletando com a grande mestra do viver, quero contar um deles. Esse: “Os momentos de grande tristeza guardam pérolas valiosas de beleza”. Vou contar esse aprendizado por uma cena que tenho guardada.
Quando minha irmã Bruna faleceu foi tudo muito triste, você pode daí imaginar. Em apenas uma semana ela fez seu movimento de partida rápida e prática, como também era a minha irmã. Em seu velório muitos amigos virem. Os amigos dela de tantos lugares que trabalhou, amigos de faculdade, amigos do marido, amigos dos meus pais, amigos dos seus sogros, amigos meus, pessoas amorosas de todos os lados. E ela recebeu muitas coroas de flores. Eram muitas! Nem sei quantas. Acontece que quando chegamos ao cemitério havia aquela tristeza de levar seu caixão, mas o caminho se tornou um corredor de coroas feito amorosamente e aplausos para a Bruna surgiram dali. “Que bela vida, Bruna, que bela vida você viveu”. Os aplausos eram de tanta beleza que inundam meu coração com o que há de mais lindo no ser humano. Uma beleza que nem sei explicar, mas que toca minha alma do jeito mais nobre. Ali, entre tantas tristezas, a beleza guardada. E não só essa, tantas outras que pude receber da grande mestra do viver, A Morte.
Há uma frase que uso: “Vida, eu te honro”. Verdade é que se honro a vida, é porque aprendi com a reverenciar a morte. #morte 05.05.2021
