Tem uma frase sobre as abelhas que fica rondando há um tempo meus pensamentos. Hoje pude olhar para ela depois de estudar as abelhas.
É assim: “Pela aerodinâmica as abelhas não deveriam conseguir voar. Mas como não sabem disso, voam do mesmo jeito”, da Mary Kay.
Por muitos anos a ciência acreditou ser quase impossível as abelhas conseguirem voar por aí. Não entendiam como asas tão pequenas sustentavam por tanto tempo as abelhas e também outros insetos.
Só que a ciência é que ainda não tinha entendido a aerodinâmica do voo da abelha, achavam que as asas eram estáticas como a do avião. Só que não são, descobriram mais recentemente os ingleses.
Temos essa crença de que o “não saber fez ir mais longe”. E isso revela o quanto nós não entendemos a força que se habita no saber…. ou melhor, sabemos e temos medo. E aí ficamos criando essas frases de efeito e mesmo argumentações que nos estimulam a viver com nossos “pontos cegos”.
Temos essa cultura de achar que o “não saber” é mais valioso que o saber.
Quantas vezes já me vi em círculos de amigos em que muitos defendiam o “pode me trair, só não me deixa ficar sabendo”. Quantas vezes já estive em conversas em que a conclusão era “bom mesmo era o tempo que eu não sabia de nada disso”. Ou a clássica “o que os olhos não vêem o coração não sente”.
As bruxas foram para a fogueira num momento da história porque sabiam demais, acessavam as profundezas, criavam a própria medicina. O saber começou a ser associado com “perigo”. Saber demais era perigoso. Primeiro porque expunha o interior secreto do outro, porque aí não dá pra colocar o lixo debaixo do tapete e esquecê-lo por lá. Segundo porque acessar verdades pode doer num primeiro momento mas depois te libera para uma tomada de decisão mais do adulto. Terceiro porque começou a haver punição para quem sabia demais, como as bruxas serem queimadas nas fogueiras.
Essa ideia de que a vida piora depois de sabermos das coisas é um crença de que manter afastada a sombra e o que existe no inconsciente, de que guardar os segredos ou a sujeira debaixo do tapete, é melhor e nos fortalece mais. Só que isso é uma crença. E isso ao invés de nos fortalecer, nos limita.
Nos limita individualmente e nos limita como sociedade.
Temos mais força quando sabemos, quando conhecemos, quando nos aprofundamos. A força está no saber, – e não esse saber que a distorção sobre a ciência criou, mas um saber que vem da alma, da sensibilidade, do coração. É o não saber é que cria limitações.
A própria ciência, depois falo mais dela pois como cientista doutora que sou posso enxergá-la em essência e sem distorções, se desenvolveu como uma reação ao medo do saber. A ciência é tem sua base nas perguntas, não nas respostas, porque todas as respostas são provisórias até que a próxima pergunta venha e algo mais profundo se revele.
O medo do saber é um medo da profundidade. O medo da profundidade é o medo das camadas mais escondidas da alma, essa que os olhos não vêem mas que o coração sente, porque sim, ele sempre sente!
Porque nas camadas mais profundas as respostas mais translúcidas sobre mim mesma e sobre o outro podem ser vistas. Porque se ficarmos na escuridão total do profundo nosso medo é ficar cegos e perdermos o controle, só que ao invés disso o que a escuridão nos traz é olhos que enxergam mais.
Ao contrário do que acreditamos, mergulhar no inconsciente, nas profundezas e no desconhecido vai nos fortalecer ainda mais, vai nos dar de presente um outro mundo, de realizações, de possibilidades, de criatividade, de conexão ao ilimitado.
Paula Quintão
30 de novembro de 2017