Os movimentos pela vida, quase todos eles, são guiados pela validação. José Ângelo Gaiarsa, em seu tratado sobre a fofoca já dizia que não existe maior polícia que a fofoca dos amigos e vizinhos. Em tempos de rede social, a “teia policial” se aperfeiçoou ainda mais, tem mais instrumentos, mas em compensação também há mais amostras de permissão, essa que é uma das maiores chaves para nos libertarmos da pressão causada pela fofoca.
Funciona assim: diante do medo da fofoca, somente a permissão dada por outra pessoa é capaz de criar um escudo protetor. É como se alguém te autorizasse a seguir por aquela trincheira, garantindo que, se falarem sobre você, é totalmente sem fundamento. Só que a permissão não é algo feito da boca pra fora, a permissão é o outro oferecer o próprio corpo e atravessar a trincheira antes de você, te mostrando que é possível a passagem e a sobrevivência. Tantas pessoas têm esse papel em nossas vidas. Na época da minha gravidez na adolescência, minha obstreta atravessou a trincheira pra mim ao me contar sobre terem a julgado na faculdade “não se incomode com os olhares, ninguém ali paga as suas contas”.
Durante meu ato de ser feirante em Manaus, meu amigo Eron me disse “eu idealizei essa feira pra ter do bolo da mineira ao açaí do amazonense”. Diante das represálias que recebi da instituição onde coordenava a graduação, meu amigo Silas disse “o amor passa por debaixo da porta”. Nas aulas do curso de constelação, minha professora Wilma logo no início avisa “preocupa com a minha cara não, tem hora que é fechada mesmo, nem sempre estou de mal humor, às vezes estou e isso não é problema seu”. Permissões. Trincheiras que foram atravessadas antes. E que agora indicam um caminho seguro. E por que falo isso? Porque estou nos últimos tempos a me debruçar sobre meu novo livro, o livro sobre os relacionamentos.
Levei tempo até me dar a permissão para finalizar, as más línguas ainda me assombravam. Agora o tenho quase pronto. E o que eu posso dizer, meus caros e minhas caras, é que por minhas páginas eu me coloco na trincheira, por elas te ofereço permissão. Pelas minhas histórias dos relacionamentos que vivo desde meus 11 anos, eu te ofereço permissão.