Constelações Sistêmicas e o Senado
Quando ouvi os comentários de que estavam ao vivo numa audiência pública na TV Senado sobre o uso das constelações sistêmicas pensei ter escutado errado. TV Senado? Meu Deus, o que pode ser? A mente ainda achando que havia algum engano na comunicação clicou no link e lá estavam mesmo ao vivo. Uai… Logo então fui compreendendo. Ah, sim. Estão discutindo pra ver se é algo real ou não, verdadeiro ou falso, bom ou ruim. Compreensível. Uns falando mal. Outros falando bem. Não assisti, só percebi a dinâmica e fui me ocupar de varrer a casa.
Depois um tanto de mentorandos me escreveram. A sabedoria sistêmica está sempre nos meus trabalhos, permeia minhas entregas. Acredito que meus clientes e leitores me escreveram na esperança de que eu desse uma palavra amiga para o quão desolados estavam ou que eu dissesse algo para somar ao lado da bandeira a favor das constelações.
Minha gente, não tenho nem palavra amiga nem incentivo. Esse tipo de coisa não se compõe com argumentos nem com torcidas. Tanto faz se uns acham bom e outros acham ruim. Se uns acham verdade e outros acham mentira. Se tem selo azul de verificado pela ciência ou não. Que confusão. Algumas coisas não podem ser medidas dessa forma. O modo como os coisas funcionam independe do que se argumenta. Se a coisa é de um jeito, se funciona de um jeito, podem ter mil argumentos dizendo que não, e tanto faz. É como se reunir para dizer se é certo ou errado a ideia de céu, perda de tempo, a coisa como é seguirá sendo como é independente do que se diz.
Ciência é a pergunta, é o direito da dúvida, é o caminho da verificação. Isso é ciência. Ciência não é a certeza. Mas a mente insegura quer certezas e se apegou à ciência pra ver se fica mais fácil fazer a lista de prós e contras. “Se provaram pela ciência eu digo sim”, se asseguram os metódicos de plantão. Assim é bom que a ciência escolhe por você, logo ela, a rainha da dúvida e da pergunta.
Pingos nos is. Primeiro como doutora que sou: estão a confundir o que é ciência, esqueceram o conceito, se perderam em algum lugar do caminho nesse cientificismo todo. Ciência é a pergunta, é o direito da dúvida, é o caminho da verificação. Isso é ciência. Ciência não é a certeza. Mas a mente insegura quer certezas e se apegou à ciência pra ver se fica mais fácil fazer a lista de prós e contras. “Se provaram pela ciência eu digo sim”, se asseguram os metódicos de plantão. Assim é bom que a ciência escolhe por você, logo ela, a rainha da dúvida e da pergunta. Bem, saibam que a depender do método de verificação e dos vieses de um caminho de verificação, a resposta é outra. E para os caminhos da alma humana, arisca que é aos instrumentos e ao método, a verificação com os meios que temos se torna quase impossível. Acontece que a ciência tem seus méritos em áreas que os instrumentos de verificação são de boa checagem. Agora me expliquem com que fita métrica, com que método de eficiência comprovada, estão pretendendo nesse momento medir as verdades da alma? Meu Deus do céu. E o que a TV Senado, no atual estado da arte, tem a ver com as verdades da alma? É como pegar um instrumento muito bruto e querer tocar algo muito delicado e sutil. Soa grotesco. Soa inapropriado. Não sei, mas não tiro do pensamento a expressão um tanto desbocada que cresci ouvindo do meu pai: “o que o cu tem a ver com as calças?”. Enfim. Estavam querendo levantar os pros e os contras ali numa espécie de circo movido por comentários do chat igualmente sem pé nem cabeça.
É bom que se traga para a superfície as dúvidas e as discussões, mas algumas discussões são infrutíferas porque não movem as percepções. Quem acredita, segue acreditando. Quem não acredita, segue não acreditando. 6h de perda de tempo ao vivo. Já fizeram esse experimento inclusive. Funciona assim mesmo: numa discussão de dois lados, depois dos lados apresentarem seus longos argumentos, conclusão: o grupo que acreditava segue acreditando mais e o que não acreditava segue desacreditando mais. Ciência. Poderiam ter lido o experimento e evitado as 6h.
O que sei é que para o que é verdadeiro não é preciso travar nenhuma luta, nenhum convencimento. O que é verdadeiro perdura. O que é verdade é verdade.
O que sei é que para o que é verdadeiro não é preciso travar nenhuma luta, nenhum convencimento. O que é verdadeiro perdura. O que é verdade é verdade. E se a constelação, a sabedoria sistêmica, é uma verdade maior como do meu lugar hoje a percebo, simplesmente ela perdurará. E pronto. E se vier uma verdade maior ela precisará ser solta e assim será. A coerência não é nos apegar a uma teoria ou a uma verdade para a alma seguir, nem a ciência tem esse apego, porque o que importa é nos manter atentos à verdade maior que nos chega. Não existe isso de que cada um tem uma verdade, há verdades maiores e elas vão sendo acessadas em níveis, pouco a pouco disponíveis de acordo com o que os olhos (e instrumentos) conseguem VER. Acontece que para as verdades da alma não é a ciência que vai nos dizer, porque a ciência tem limitação nos instrumentos quando se trata de verdades da alma. Talvez em alguns séculos isso mude. Mas está longe. Sobre as verdades da alma, você estará anos luz à frente se usar seus próprios instrumentos de validação, porque eles serão mais apurados que os rudimentares instrumentos que a ciência dispõe hoje.
Portanto, vamos ficar em paz, eis a postura: humildade de quem nada sabe e grandeza de quem está na vida fiel a verdade maior. Seguimos em frente.
Paula Quintão