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Durante o tempo que morei em Manaus um dos projetos vivos era meu blog de escritos Manaus pra Mim e numa altura da coisa criei também uma revista digital que era uma outra forma de produzir conteúdo. Era bem linda a Manaus Pra Mim Em Revista e um dos movimentos que fizemos na época foi uma visita ao município de Anamã, no interior do Amazonas.
Para chegar até lá fomos de barco naquele estilo balança mas não cai que o rio agitado proporciona. Chegamos à bela Anamã e a cidade em poucos minutos ganhou meu coração. Tantas casas coloridas criavam uma atmosfera de um conto de fadas tipicamente amazônico.
E uma das programações que tínhamos era visitar uma comunidade indígena nas redondezas da cidade. Lá vamos nós, dessa vez de voadeira, e avançamos até chegar na comunidade.
Chegar à comunidades indígenas, todas as vezes que pude vivenciar essa experiência, me traz uma sensação de olhos arregalados de curiosidade e ao mesmo tempo um silêncio e um caminhar de respeito.
E enquanto éramos recebidos e nos explicavam como a comunidade se organizava, o que plantavam, como era viver ali, pelo caminho estava um grupo de crianças super entretidas com uma brincadeira.
À medida que fui me aproximando, percebia minuto a minuto o que era a brincadeira.
Fiquei completamente hipnotizada pelas crianças.
Há por aquela região do rio muitas daquelas aves bem magrinhas, pernas alongadas, bico esticadinho e branquinhas. Não sei o nome. Pelo jeito a comunidade encontrou uma forma de caçá-las e as três ou quatro aves que estavam por ali virariam almoço de domingo. E as crianças estavam empenhadas em ajudar nos preparativos transformando o momento numa brincadeira das mais divertidas. Elas arrancavam as penas brancas das aves, naquela altura do campeonato, já mortas.
Meus olhos, numa primeira reação, se assustaram. Estranhei aquele movimento. Fui diminuindo o passo.
Meu grupo seguiu avançando pois nosso plano era fazer uma entrevista com um senhor ancião da comunidade.
Mas eu não consegui seguir. Fui andando devagar e devagar para olhar por mais tempo aquelas crianças.
Vivi minutos de susto, de olhos que julgam por uns instantes se aquilo é certo ou é errado, se eu deveria ser contra aquilo… Minha mente começou a processar tudo muito rápido e meus passos, bem lentamente, cessaram e eu me sentei num banco de madeira que havia por ali.
Olhei e olhei. Permiti que as crianças e suas vidas, tão diferentes da minha, pudessem entrar pelos meus olhos, ultrapassar os limites da minha mente condicionada pelo que acredito ser certo e errado, pelas experiências e pelo repertório que é da minha cultura, e fui adentrando na vida que é delas.
E ali vivi uma mágica. Vi dentro de mim, graças a ter olhos abertos e receptivos, meu coração se emocionar, meus olhos se encherem de lágrimas silenciosas e o encantamento acontecer.
Até hoje, acabei de descobrir que são 3 anos desde essa experiência, consigo me lembrar com detalhes dessas crianças, mesmo sem ter acesso às fotos de Anamã, elas estão tão vivas no meu imaginário, de uma forma que eu jamais vou me esquecer. Consigo, em segundos, me transportar até lá novamente e sentir meu coração se preenchendo do mesmo amor e encantamento que senti aquele dia.
E essa história me traz lições muito lindas sobre ter olhos receptivos, sobre me permitir sentir o que cada situação traz sem que o filtro da cultura, da minha história, das minhas crenças, entrem tão rapidamente em ação. Respiro o silêncio, ajusto as lentes com que meus olhos percebem o mundo e sigo a buscar os encantamentos que o caminho traz, seja na linda Anamã, seja pelas estradas de Minas, seja dentro da minha casa.
A vida pode ser essa magia toda, basta ter olhos para ver.
Paula Quintão
09 de abril de 2017
Que lindo! E inspirador, Paula! ??? O que será que ainda
não estamos vendo?? Obrigada ??? E um bom domingo! ?
Que lindo Paulinha! À propósito, o nome daquele pássaro branco, magrinho…é GARÇA!
Ahhh… texto adorável esse, Paula! Como de costume, sua sensibilidade a nos conduzir por experiências encantadoras e plenas de inspiração! Gratidão pela partilha! ???