Bagagens Inconscientes

Bagagens Inconscientes, por Paula Quintão

Dentro de nós habita uma multidão. Muitas vozes que enviam pitados daqui, comandos dali, alertas de lá. Dentro de nós há uma multidão inconsciente, habitantes que há tempos não temos notícias: habitam nossos pais, habitam nossos avós, bisavós, tataravós, mães e pais dos tarataravós, também avós dos taratavós e por aí vai. Habitam também nossas versões de outras vidas, essas tantas que já fomos que se tornam uma imensa roda. Vidas anteriores e ancestrais são parte da multidão que nos compõe.

Eu imagino que nessa altura do campeonato você já não esteja mais iludido de que chegou até aqui com mérito próprio e brotou do nada com seus enroscos, suas pedras no caminho, suas loucuras às vezes adoráveis e às vezes detestáveis. Não, você não é um ponto solto, muito menos uma folha em branco, nem começou aqui do zero. Você é fruto da multidão que te habita. E também multidão habitando. Você já veio com alguns bons escritos internos, páginas e mais páginas e mais páginas de ressalva, orientações em negrito e setas que apontam para onde ir e onde não ir, conclusões anotadas em rodapé. Mas a misericórdia divina é tamanha a ponto de não te ensurdecer com toda essa composição que há por dentro.

A multidão que nos compõe fica guardada em nosso inconsciente. Está lá. Em nossas profundezas emanando suas vozes. E tudo o que espera é pela nossa visita. Sempre para nos entregar um presente. Só que ir até esse profundo guardado dentro de nós exige atravessar medos, exige nos livrar de falsas ideias, exige integrar as partes.

Querer visitar o inconsciente é querer conectar mais dos pontos que nos habitam, querer ouvir com clareza mais das vozes que já estão a falar dentro de nós, querer relembrar histórias algumas felizes, outras duras, querer compreender mais a fundo o que nos move em nossas escolhas, reações, crenças. O inconsciente que nos habita é onde toda a riqueza que nos compõe está. É o solo fértil. É o rio que corre abaixo do rio. É a profundeza escura em noite estrelada.

Meu papel é convidá-los à visita e levá-los junto graças às minhas entregas, trazendo o inconsciente ao consciente. Por isso, vamos. 🙏🏻

📸 2020 em Berlim