Há uns dias eu pedi, durante um passeio no rio, que meus olhos vissem as cobras que estavam guardadas no caminho das árvores que passaríamos ao redor.
“Acho que vou ver uma cobra”, anunciei.
Quando as cobras aparecem elas trazem suas mensagens: a do despertar e juntamente as das traições (afinal todo despertar é um retirar das ilusões e inevitavelmente as traições estão debaixo da pedra).
Naquele dia eu não vi nenhuma cobra, mas adoeci. Fiquei com febre. E inaugurou-se a semana em que tudo o que era ilusão ruiu. Todas as traições vieram para a superfície, tudo que era provisório foi removido, tudo que era mentira veio para a verdade, tudo que impedia o despertar desse momento foi levado para cima, elevando-se.
Costumo questionar o motivo de os meus olhos não terem visto antes, faço isso vez ou outra. E uma parte mais sábia sussurra: eles vêem, mas não podem admitir que viram. Precisam filtrar. Porque se vissem tudo que sabem ver sequer sairíamos de casa para um passeio na natureza nem dormiríamos em paz com a luz apagada enquanto os inimigos aprontam, pois tudo o que não é visto anteciparia nossas providências e escolhas, impedindo um movimento no mapa da vida por sabermos o que haveria depois da curva.
Os olhos não podem ver tudo, é bom saber. Graças a essa habilidade é que algumas pontes são percorridas, alguns trechos são vivenciados, algumas confianças são depositadas.
Não vi naquele dia a cobra, mas vi através dela durante a semana e sete dias depois, enquanto eu passeava pelo parque, vi um filhote de serpente afoito e arisco. Filmei. Tudo certo.
Estava inaugurando novos tempos de despertares, eu soube.
Dedico às Mulheres do Espírito Selvagem, em duas semanas iniciaremos nosso curso de leitura do simbólico. Preparem-se.