Lá chegamos eu e Clara em Barcelona. Pousamos depois de uma viagem de mais ou menos 15horas. Um tanto cansadas, mas felizes. Eu, Clara, as mochilas e meu papel impresso com o endereço do hotel reservado. No caso, fiz questão de imprimir para a coisa toda ficar bem organizada quando eu chegasse na Espanha e quando tivesse que usar meu “espanholito” no táxi.
O taxista logo olhou o endereço e me disse algo que entendi como “essa sua reserva não é em Barcelona”. Disse de uma forma pausada e calma para não me causar pânico.
“Hum. Não é em Barcelona?!” Levei um tempo para processar. “Tenho aqui outro papel, devo ter te entregado a reserva errada”.
E ele explicou que o papel era aquele mesmo. “Sua reserva é em Sabadell, uma cidade vizinha que tem cerca de 300 mil habitantes e fica a mais ou menos 30 minutos daqui”.
Hum. Cidade vizinha. A única opção em plena 21h da noite era mesmo ir pra Sabadell e ver o que nos aguardava. Nesse caminho de 30 min e 60 euros tive tempo suficiente para me pressionar bastante e perguntar qual era minha dificuldade em olhar os detalhes da reserva antes de reservar. “Coisa tão simples de se fazer!”, eu dizia a mim mesma num discurso repressivo. Nem são tantas informações assim para conseguir fazer uma reserva, mas localização costuma ser a primeira verificação a fazer. “Localização, Paula, custa olhar isso?”
Aquele trecho de táxi foi um tanto quanto martirizante para mim. Fui me cobrando pela desatenção, por tentar organizar tudo certinho e não conseguir, fui me cobrando pelo valor a mais que gastaríamos no táxi. Enfim, chegamos a Sabadell.
Acontece que ali, durante os quase 10 dias que eu e Clara ficamos hospedadas, algo muito mágico aconteceu. Primeiro descobrimos um trem que nos deixava no centro de Barcelona e que até hoje, quase um ano depois dessa viagem, lembramos com alegria da narração da operadora da estação “Linha R4”.
O hotel era muito bom, super acolhedor. Lá eu conseguia ter espaço para trabalhar, para gravar meus vídeos, para escrever. E por perto havia dois mercados ótimos, os preços eram muito melhores que em Barcelona e no fim das contas, mesmo com o táxi de 60 euros que nos levou até lá, gastamos proporcionalmente menos e experimentamos muito bem Barcelona e também das suas redondezas de Barcelona
Essa experiência me rendeu muitos aprendizados, porque o que aconteceu ali foi uma metáfora para muitas outras situações da minha vida. Um dos aprendizados foi sobre fazer o meu melhor e quando algo fugisse do meu planejamento, ou seja, do meu controle, me cobrar menos, ser mais amável comigo mesma. Outro é ter disponibilidade emocional para lidar com os imprevistos, entendendo que a vida é esse fluxo e que tudo muda o tempo todo.
É sempre muito bom cuidarmos e fazemos o nosso melhor, planejar, olhar para o futuro e mirar em algo. Mas planejar não tem a ver com apegar a um único resultado possível. Isso é privar a vida de me oferecer mais e me mostrar possibilidades que eu mesma não estou enxergando, isso é privar o diferente de entrar em minha vida.
Cuidar de tudo e deixar o inesperado entrar, valiosas lições para vida vieram dessa chegada a Barcelona.
Paula Quintão
07 de fevereiro de 2016 (texto adaptado de fevereiro de 2015)
Que texto ótimo, Paula!
Adorei, Paula! Tenho duas histórias parecidas, uma com um final muito feliz e outra com um final bem conturbado. Mas ambas com o dedo do destino. Essa auto-empatia e aceitar que cada passo foi feito com boa fé, independentemente do resultado, é um grande aprendizado.
Elisa, fiquei daqui imaginando suas histórias como seriam =)) depois me escreva contando, vou adorar conhecer, tanto a de final feliz como a de final conturbado.
Vou escrever sim! 😉
Beijo enorme!
Paula, os imprevistos são muito instrutivos. Tudo depende do olhar com que se contempla. Costumo pensar que é muito bom se perder no caminho. Acabo me divertindo e buscando ver, amorosamente, sob a nova perspectiva. Abraço!
Wanya, tudo o que venho pedindo em orações é “olhos para ver”, ver a essência, ver a lição, ver a luz em cada vivência!
Saudades de você! Muitos beijos e uma bela semana para nós!
:*
Oi Paula. Em 2004 fiz minha primeira viagem à Europa. Sozinha.
O destino era Portugal e depois Espanha…
Até hoje não encontro explicação, mas simplesmente não ouvi o chamado para o avião que me levaria até Lisboa, onde já tinha reservas em uma pousada. Pânico total ! O que fazer ????
Me ofereceram um voo que estava saindo para Madri.
Aceitei. E foi a melhor e mais rápida escolha da minha vida ! Pura aventura e emoção!
Eu estava em um país sem reservas de hospedagem e sabendo apenas falar “Gracias”.
Aliás, gracias foi a palavra que mais falei naquele país tão lindo e acolhedor.
Resumindo: a viagem foi perfeita, graças ao “inesperado” ! Bjos.
Esta é a foto correta.
Elizabete! hahaha que caso! imagino seus olhos de susto. E depois seu coração agradecendo por tudo ter ficado bem (como geralmente fica).
Linda sua partilha, lindo seu aprendizado!
Feliz com sua presença, beijos!
Que maravilha. Gratidão por partilhar. Um abraço.
Gratidão é minha por sua presença, Sandra!
OI Paula, adorei o texto. Tenho pensado muito sobre isso. Escrevo sobre produtividade pessoal e qualidade de vida. Vivo me questionando e buscando soluções para que as pessoas entendam que o desempenho precisa mesmo de um pouco de caos, imprevistos! A vida não é linear! Muito bom! abs Fabiano
A vida é esse caos curioso e mágico, não é mesmo, Fabiano! Depois me escreva um email para eu conhecer seus espaços online. Grande abraço!
Nem sei exatamente como cheguei até aqui…mas o fato é que depois de três textos lidos em sequência, me rendi às suas experiências compartilhadas tão cheias de vida, desde a sabedoria do instrutor de mergulho, o efeito uber, até chegar aqui em Barcelona, digo, deixar o inesperado entrar rs. E acho que não haveria melhor história para eu ler por último do que está última. Como me identifiquei com essa coisa de querer controlar tudo! Sei q sou assim é tbm sei o qnt isso é mtas vezes desgastante. Deixar o inesperado entrar não é somente uma escolha, é um exercício que mtas vezes é vencido por aquela birra que temos em não querer aceitar a possibilidade de mudança…aquele danado do “Efeito uber” rs. Sem mais delongas, quero dizer q amei ler cada texto! Com certeza vc já tem mais uma seguidora. Parabéns ?