Hoje durante minha aula do doutorado um colega ao meu lado reclamava sobre a ausência de um dos alunos. Dizia “as pessoas que não vieram deveriam ganhar zero, não é?!”. E a outra colega concordava “Sim, deveria mesmo”. Fiquei por alguns minutos tentando assimilar o que estava acontecendo ali e realmente é algo frustrante, ou melhor, é algo entristecedor.
Estou quase terminando meu doutorado de Ciências do Ambiente e os temas que mais falamos são capitalismo, consumo e sustentabilidade. Horas e mais horas de discursos, análises, apresentação de trabalhos, aulas expositivas acompanhados de milhares de slides power point. E pensar em capitalismo, consumo e sustentabilidade só tem um porquê quando queremos o bem comum, uma economia que considere os recursos naturais e uma transformação da nossa cultura para que seja possível pensar de forma menos agressiva para o mundo. E então, dentro desse contexto, um colega vem dizer que o outro deveria ganhar zero. Simplesmente é assustador. É contraditório. É uma incoerência. Assustador porque eu começo a me dar conta que realmente a academia não nos faz pensar de forma prática, não nos faz ter autoconsciência, não nos poupa do egocentrismo e da força da comparação (aquela mesma comparação que falei aqui nos últimos dias).
Nesse terrível ciclo de comparações, queremos ser mais valorizados, queremos receber destaque pelo que fizemos, queremos que nossa nota seja a maior, queremos que o outro tire zero. Esse formato de pensamento jamais vai gerar um mundo sustentável, jamais vai transformar a sociedade que temos, jamais poderá ver nas culturas diversas uma grande malha colaborativa que constrói o mundo belo que há no diferente.
Eu acredito num mundo em que os saberes são colocados em prática. Acredito numa academia que nos faça transformar a nossa vida e não só crie um discurso para transformar a vida social. Acredito em um amanhã em que não desejaremos mais zero para ninguém, um amanhã em que todos ganhamos 10 porque estamos sempre fazendo nosso melhor. Assim seremos mais fortes, melhores, assim construiremos bases mais sólidas e uma vida mais harmônica.
É aí que começa a sustentabilidade da sociedade atual. Arrogância, intolerância, poder de usar a força para reprimir comportamentos diferentes e por aí vai. Tirem o poder do professor dar zero para o aluno e o atual sistema de ensino cai por terra. Precisamos pensar em novas formas de avaliar a aprendizagem dos alunos.
Isso, professor! Vamos juntos pensar em outras formas de criar uma educação que minimize a comparação, que nos encha de ferramentas para construir um mundo mais solidário, que caminha de mãos dadas.