//Distorções
Temos essa mania de nos achar capazes de deduzir o pensamento dos outros. Passa a senhora e nos olha…“pensou que sou maluca”. A vizinha fez “a” e você já tem a linha de raciocínio dela completa em mente. O senhor deu bom dia e você já sabe todos os pensamentos pouco complexos dele. Aquela mania de se achar o Sherlock desvendador dos pensamentos. Hum. Nem preciso dizer que ao entregar nossos produtos e serviços acontece o mesmo. “Mas toooodo mundo vai achar que estou louca”. “Mas ninguéeeeem vai comprar de mim desse jeito”. “Mas nuuuuuunca funciona como eu gostaria”. “Mas eu já tentei de tuuuuuudo”.
Parece que você volta a estar diante da mamãe ainda dizendo que “toooodo mundo vai participar” e que “ninguéeeem fez a tarefa igual a você”. Pensar o pensamento dos outros e justificar nossas escolhas ou não escolhas por meio deles, vou dizer a vocês, é só uma das formas de não nos apropriarmos do adulto que escolhe. Quando o adulto escolhe, ele sabe a linha do seu raciocínio e mesmo que o outro pense ou deixe de pensar… que diferença faz? O pensamento do outro pode até acontecer mas levou segundos pra ser pensado e esquecido, vale dizer que você não é o centro da vida de ninguém a não ser da sua própria.
Somos os responsáveis por fazer nossas escolhas e também os responsáveis por encontrar as soluções dos enroscos que surgem nos caminhos percorridos a partir de cada escolha. O que pensamos que os outros pensam, caro Sherlock, é um espelhamento do que há em nós para justificar nossos argumentos que nascem de um mecanismo de autoproteção que impede o avançar.
Quando dizemos “o outro me vê assim”, trata-se de EU dizendo que o outro me vê assim. Não sabemos o que o outro está mesmo pensando sobre nós, é tudo dedução e faz parte das nossas caraminholas internas.
O jeito é cantar um samba a la Jair Rodrigues num quase mantra deixe que digam, deixe que pensem, deixe que falem para que seja possível acolher o senso de defesa e proteção a nós mesmos e seguir centrado em si e no peso e na beleza que há ao percorrer o caminho que é só seu.
Paula Quintão.
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