É MUITO PRA MIM sobre criar condições para sonhos serem realizados

Eu estava num desses transportes de bairro, tipo um Uber bairro, que tem aqui pela cidade onde moro agora. Todo mundo se conhece, coisa de cidade do interior de Minas. E assim que eu entrei, o motorista me perguntou.
 
“Seu pai falou que você e a sua filha estavam pela Itália há um tempo atrás, né?!”.
“Sim”, eu comecei a contar, “fomos eu e a Clara para uma viagem de alguns meses e passamos um tempo na Itália”.
 
E então ele começou a me dizer que aquele era o maior sonho da vida dele, que desde pequeno todas as histórias que ele cria são sobre a Itália, todos os seus personagens de brincadeiras e histórias inventadas são italianos e tudo o que há de filmes e documentários sobre a Itália, ele já viu.
 
“E você já pesquisou uma data pra ir? Uma passagem?”
“Ah, não…. eu não tenho dinheiro agora. É muito caro pra mim”.
 
Pra esse tipo de argumento, não costumo seguir colocando lenha.
Fiquei a observar o caminho enquanto outros passageiros entravam e começavam a conversar. Eis que um senhor desses muito engajados entrou e começou com algumas perguntas sobre a fiscalização desse tipo de transporte.
 
“Como foi pra tirar o seu carro apreendido outro dia, meu filho?”
“Tive que pagar 5000 mil reais para liberar o carro”, falou o motorista.

 
Eu mal pude acreditar… não aguentei e me intrometi
“Você pagou 5000 reais para liberar seu carro de uma apreensão?”
“É… somou um tanto de coisas e o valor foi esse”.
 
Algo dentro de mim não conseguia se calar.
“Você sabe que com 5000 mil você vai e volta da Itália, né?”
Ele me olhou com uma cara de “sério?”.
 
E eu gostaria de ter dito mais. Ter dito que pesquisar o preço da passagem não custa nada, que pesquisar hostel, pesquisar hotel, pesquisar alimentação, pesquisar sobre visto de trabalho… não custa nada e você faz pela internet. Ter dito que com 5000 reais ele tem garantidas as passagens de ida e de volta, e que consegue com esse dinheiro se hospedar e se alimentar por uns 10 dias se ficar em hostels coletivos como os que eu ficava no Caminho de Santiago. E que se estiver em cidade turística, é bem possível que consiga um trabalho temporário e seja possível ficar uns dias a mais. Ou mesmo conseguir um visto que dá direito a trabalhar. E que todas essas informações conseguimos online, em grupos de discussão do facebook ou em pesquisas pelo google.
 
Acontece que há uma distância grande entre sonho e realidade se você não movimenta seus pés, se você não movimenta as energias, se você não vai atrás do caminho que leva até aquela realização. Há uma distância grande entre sonho e realidade quando você começa um discurso de que aquilo não é para você, que é muito caro, que é para os privilegiados, que não tem tempo, que não é pra agora e uma lista de coisas.
 
E o dinheiro, bem sei, vira um instrumento de desculpa para que o sonho não se realize. “Ah, é muito caro”… “ah, eu não tenho esse dinheiro”… “ah, isso é coisa de gente rica”. E enquanto isso, muito provavelmente, você não está com nenhum foco em criar as condições para realizar aquela realização, e também, provavelmente, está usando todo o dinheiro que poderia ser direcionado para seu sonho em coisas de dia a dia que em pouco de trazem felicidade, que pouco tem a ver contigo, vivendo uma vida enfeitiçada e sonâmbula, que não é a vida que você sonha, mas que é a vida que você acredita ser possível para você.
 
Sim, há diferentes níveis de condição social, não é uma negação o que faço. E sim, há momentos que tudo o que nos resta é segurar todos os investimentos e contar as moedas, mas há um distância muito menor entre sonho e realização do que esse discurso quer nos fazer acreditar. Acreditar que temos pouco e que nosso sonho é inalcançável é o primeiro passo para a não realização, isso é um fato.
 
E não tem nada de místico aqui, é algo bem prático: ao acreditar que a coisa não é para você, talvez por medo, por insegurança ou por se achar pouco merecedor e um eterno “desprivilegiado”, simplesmente você fecha as portas da possibilidade, de ver além do que acha ser possível, e começa a pagar uma multa de 5000 mil reais ao invés de com esse mesmo dinheiro preparar sua mala, tirar seu passaporte e voar para o seu sonho mais profundo.
 
Eu amo os sonhos, eles são muito valiosos, eles nos dão rumo, nos dão direção. Respeito e honro meus sonhos.
 
Só que sonhar é ver de longe.
É na formulação de uma rota, é na criação de um passo a passo, é na ação, na busca, na pesquisa, na conversa, no agir… que a coisa ganha corpo, ganha forma, ganha robustez, ganha realidade.
 
Sonho precisa ficar anotado ao nosso lado o tempo todo, pra não nos esquecermos dele. Pra não deixarmos de nos perguntar, a cada manhã, como será possível criar condições para que ele se realize.
 
Sempre há um caminho, é um fato. Sempre há. E o que não falta é história para nos inspirar – assim como também o que não falta é gente para nos dizer que “o mundo real não é assim e que a coisa é difícil mesmo e fim de papo”. Acontece, meu leitor assíduo, que não há isso de “fim de papo”. E é nessas horas que vou papear com quem sonha, com quem vê o horizonte, com quem respira profundo e com quem está a criar seus rumos e a realizar maravilhas.
 
Criar rumos, passos, movimentos não tem nada a ver com ter dinheiro ou ser privilegiado, tem a ver papel, lápis e google.
 
Paula Quintão
15 de janeiro de 2017
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5 Comments

  1. Priscila Socoloski

    Já perdi as contas das vezes em que ouvi o “o mundo real não é assim e que a coisa é difícil mesmo e fim de papo”. Sorrio e sigo em frente, e ficam todos admirados com as coisas que consigo fazer… hihihihi 😉

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