Se há uma lei que nos rege a vida é a lei da mudança. “Tudo muda o tempo todo no mundo”, não há outra equação. Expostos a estímulos, enxergamos diferente, pensamos diferentes, reagimos diferente, acumulamos experiências, percepções, referências. Estar em contato com outras pessoas, ideias, modos de vida, opções, conhecimentos nos faz ampliar nosso horizonte e criar alternativas para o que sempre foi igual. Mesmo sem querer, a mudança se instala.
Acontece que vez ou outra, por nos apegarmos a um modo de viver, ser ou pensar, ficamos “agarrados” num lugar, cruzando os braços quase a fazer pirraça e dizer “daqui eu não saio, daqui ninguém me tira”. É uma pirraça que batizo como Efeito Uber.
Esses dias estava em viagem e usar o aplicativo do Uber para chamar meu transporte é como estar num game, me divirto como criança. Se você já usou, sabe da diversão que estou falando. Se não, eu te conto, mas ainda assim não vai chegar perto da experiência.
O Uber é um transporte urbano como um táxi, só que os “modos de operar” são diferentes. Para chamar um Uber, você usa um aplicativo em seu celular onde você tem um perfil com seus dados e vinculado a ele o seu cartão de crédito. Quando queremos usar o transporte, muito simples: abrimos o aplicativo e chamamos o Uber. Nesse instante, num mapa aparece sua localização e você pode solicitar que te recolham ali. Fico me divertindo com cada oportunidade de marcar minha localização no mapa, de ver o carrinho se movendo na tela do meu celular e o tempo que o motorista vai levar até “me recolher”, ou de já saber o nome e a placa do carro quando chegam, de pagar pelo cartão cadastrado no aplicativo me dando a sensação que desço do carro sem pagar.
Novos tempos, novas opções de serviço, novos modos de fazer.
Qual é o efeito dessa mudança? Para os passageiros, só efeitos positivos – além da diversão, o preço do serviço também é mais baixo do que costumamos pagar pelo táxi. Eu, mesmo usando a criatividade, não encontrei nenhuma desvantagem. Para o recolhimento de impostos, é só questão de se ajeitarem e legalizarem a coisa toda. Para a maioria dos taxistas, fim do mundo.
O “fim do mundo” é uma das formas que caracterizamos a mudança quando estamos resistentes a ela.
O Efeito Uber é muito parecido com o efeito das telefonias de celular em relação ao whatsapp e suas chamadas. Querer bloquear o whatsapp e a possibilidade de fazer chamadas sem usar a operadora é só uma outra forma de dizer… “contenham os avanços e as mudanças, quero que tudo continue como está para que eu continue ganhando o que eu ganho hoje”. Chamadas gratuitas pelo whatsapp significa o fim do mundo para as telefonias de celular.
Acontece que não dá para conter a mudança, conter o avanço e as novas possibilidades que surgem dela. Não dá para impedir. Se veio o seu “fim do mundo”, que seja possível também para você fazer diferente.
As coisas podem ficar melhor, mas o medo da mudança é tão grande que preferimos fazer protestos, brigar, argumentar, criar o maior auê para impedir que a mudança se estabeleça e nos mova do lugar em que estamos.
E isso acontece tanto na esfera social, como também na nossa vida pessoal. Uma esfera é só a extensão da outra. A reação social é um reflexão da reação do indivíduo. A forma como a sociedade ou um grupo social, como os taxistas ou as telefonias reagem, é também a forma como nós, na intimidade e num nível pessoal, reagimos a muitas e muitas mudanças que se estabelecem em nossas vidas.
Dia desses minha filha, agora com quase 18 anos, apareceu com uma nova tatuagem. Fez suas economias e tcharans, a tatuagem materializada estava. Ela já tem várias tatuagens que autorizei, era só mais uma e não ia causar uma grande diferença assim. Depois que ela me contou, passei uns 5 minutos xingando o tatuador, fazendo meus protestos, levantando faixas que diziam “quero minha filha obediente de volta”. Mas a verdade é que nossa relação mãe-e-filha mudou. Mudou porque é hora de mudar, porque agora ela tem desenvolvida sua visão de mundo e preciso validar, pouco a pouco, sua capacidade de fazer suas próprias escolhas.
Posso cruzar os braços e tentar conter a mudança, fazendo minhas pirraças do tipo “daqui não saio, daqui ninguém me tira” e sofrer com isso, ou posso entender que o momento é outro, e viver intensamente o que a vida traz para hoje. Escolho me mover.
Receptivos ao que muda, ao que avança, ao que podemos fazer para ampliar as possibilidades e facilitar nossas vidas, seguimos. Receptivos ao que não podemos controlar, ao que não podemos conter, ao que precisa avançar mesmo que a nossa vontade seja ficar mais um pouquinho ali no lugar em que estamos, também seguimos. Vida é movimento. Somos água e somos fluxo. E nos lembrarmos dessa característica da existência nos faz viver com mais leveza, menos sofrimento, mais criatividade, mais possibilidades.
E assim, seguimos.
Paula Quintão
03 de abril de 2016
Olá Paula,
Realmente é magnífico começar a semana lendo um texto inspirador como este. Todos nós estamos em constante mudança, mas no entanto muitos não se atentam para esse aspecto – digo isso porque conheço pessoas próximas que são resistentes a mudanças, mesmo com o passar das décadas.
Interessante a comparação com o Uber. Já utilizei o serviço e percebi a mesma coisa que você descreveu no artigo. Além disso, pude fazer uma comparação com uma corrida de táxi que fiz dias antes e a preocupação com o cliente, pela Uber, é muito maior do que a maioria dos taxistas.
Parabéns pelo exceletne artigo! Grande abraço e sucesso!
Oi Paula! Parabéns pela bela analogia. A insegurança que temos na gora da mudança nos faz agir de uma forma “selvagem” na tentativa de mantermos tudo como está. O bom disso tudo é que as mudanças sempre ocorrerão, tudo vai depender de que forma eu vou recebê-las, vendo novas possibilidades ou deixando a banda passar. Um forte abraço!