“A morte não é um mal, mas uma divindade”.
Clarrisa Pínkola. Mulheres Que Correm Com Os Lobos
Já vi minhas avós perdendo seus maridos, enterrando meus avôs. Mas nunca antes havia visto elas enterrando seus filhos. São situações de dor, todas elas. Mas dá pra perceber que são dores diferentes, que apertam em lugares diferentes do coração.
Em dezembro, vi a minha irmã se despedir do seu filhotinho de 6 dias.
E essa semana vi minha avó se despedir do seu filhotinho a completar 60 anos.
Para uma mãe, um filho é sempre um filhote. Um filho é sempre pequeno e precisa de cuidados.
E assim é a natureza dessa relação.
E só de observar minha avó, ela sempre em sua sabedoria tão divina, e minha irmã, em sua força de transformação, há tanto a para se aprender.
Aprender sobre as emoções serem vividas por inteiro… a dor da despedida, das lembranças, o tempo de chorar, a tristeza do luto e a transição da dor para a saudade, para a celebração do que a vida significou e do quanto foi rico tudo o que se viveu, tanto os altos como os baixos.
Aprender sobre o quanto reunir pessoas e falar sobre o que doeu, expressando em palavras as emoções, pode nos fazer bem.
Aprender sobre o quanto de uma situação para a outra uma mesma pessoa pode ser percebida com olhares tão diferentes.
Aprender sobre solidariedade e acolhimento, quando cada um passava pelo velório, abraçava minha avó, escutava o que ela tinha para dizer e entregava tanto amor muitas vezes sem conhecê-la.
Aprender sobre irmãos e suas histórias longas que não são de ontem, são de uma vida inteira, de uma infância de brincadeiras e saudades de um tempo que já não voltaria mais e que com a morte se torna ainda mais distante.
Aprender sobre o mistério da morte e o valor da vida.
A vida é mesmo essa dádiva, esse mistério do divino, esse privilégio para o hoje, esse eterno sopro, essa chama acesa que de um instante para o outro se apaga. Eu amo observar a vida e amo aprender sobre a morte, porque tanto a vida e seu entusiasmo, quanto a morte e seu esvaziamento, trazem belezas e trazem ensinamentos muitos fortes, principalmente ensinamentos sobre realização, sobre vivermos o hoje, sobre fazer cada minuto ser único e em presença.
Toda a minha admiração pelas mães que se despedem de seus filhos, pela grandiosidade que há em momentos de morte e pela humanidade que nos toca em situações como essa. Agradecida.
Paula Quintão
12 de março de 2017