Há uma ordem entre os processos. Você não pode tentar reconstruir ou reparar algo sem que os destroços sejam antes retirados. Remover os destroços requer habilidades diferentes de reconstruir. São etapas distintas. Além dessas duas, há duas outras. Uma delas vem antes de qualquer movimento. É uma etapa de reconhecimento. Reconhecer o dano. Para reconhecer você precisa estar presente em seu corpo e no instante agora, ser capaz de olhar e ver o estrago, o caos, a destruição, a perda, o que seja. O reconhecimento abre um caminho interno. E somente por reconhecer é que mais adiante será possível reconstruir. Isso porque sem reconhecer não há ação possível. “Fomos destruídos. Perdemos. Ficamos sem. As coisas mudaram”. Esse instante do reconhecimento, move algo em nosso coração. Ao reconhecer a perda, é como se o coração, envolto num forte pesar, fosse mergulhado num oceano profundo, desses que soa como o fim, mas no instante seguinte ele retorna à superfície disponível para o agora. Reconhecer é constatar, no aqui e no agora, o atual estado da arte. É ver. O oposto de reconhecer é negar. É voltar as costas. É a fuga da realidade. É a culpa a si próprio por ter feito uma escolha e não outra, a culpa do outro ou a culpa a Deus, por a resultante ser a perda. Reconhecer é aterrisar. “Aqui estou eu e esse é o cenário. Eu vejo”. Nada mais que isso. E tudo isso. Um belo rito de abertura.