INTERCÂMBIO MONTE RORAIMA

Esse meu artigo foi originalmente publicado em Chata de Galocha Clique aqui para acessar a matéria original
 

São poucos os lugares que podemos chamar de “céu na terra” e, acreditem, o Monte Roraima é um deles. Estive no Monte em julho de 2011 e, não resisti, voltei para passar o ano novo. Um lugar cheio de paz e encanto, em que a natureza, ainda tão intocada, nos mostra sua essência mais doce e pura e nos leva a reflexões profundas sobre nossa existência nesse mundo em que temos tanto e sequer percebemos.

Prepare-se para dormir em barracas, sentir frio à noite, usar um banheiro improvisado no meio do mato, comer uma comida que nem é tão gostosa e ainda assim achar tudo o máximo! Prepare-se para atravessar rios, caminhar longos trechos, tomar banhos muito gelados, pegar sol e chuva e agradecer imensamente pela sua vida e pela imensidão de beleza que a natureza colocou ao seu redor. Sim, a viagem ao Monte Roraima é uma viagem de transformação. E como precisamos desses momentos!
Para quem não sabe, o Monte Roraima estende-se por três países: Brasil, Guiana Inglesa e Venezuela. Mas é na Venezuela que se encontra sua maior porção e, inclusive, sua trilha de acesso. Portanto, prepare o passaporte e o cartão de vacina, você fará uma viagem internacional. Foram 7 dias de roteiro: 3 dias de subida, 2 dias no topo e 2 dias de descida.

O nível de dificuldade vai aumentando a cada dia. No primeiro, saímos de Boa Vista (Roraima) às 5h da manhã, passamos pela fronteira e às 11h estávamos na aldeia de Paraitepuy (Venezuela) para iniciar a caminhada de 15 km. No segundo dia, saímos às 9h do acampamento, atravessamos dois rios (Tek e Kukenan) com a ajuda dos guias e dos indígenas e caminhamos 9 km até o acampamento base. No terceiro dia, saímos às 9h, enfrentamos um trecho pesado de subida, em que temos que usar as mãos para nos impulsionar para cima das pedras, e fazemos 4,5 km em três horas, passando pelas quedas d´agua finíssimas que caem pela montanha sobre nós numa chuva de gotas prateadas pela luz do sol. É o Passo das Lágrimas.

Enfim, chegamos ao topo! Que maravilha! As pedras marcam o espaço e nos impressionamos com a vegetação tão diferente do que conhecemos, com os formatos das pedras, com as cores da montanha. Nosso acampamento é montado dentro de uma gruta, chamado de hotel. Os dois dias seguintes são de caminhadas no topo. Por lá conhecemos o Ponto Triplo, local onde o Brasil, a Guiana e a Venezuela fazem fronteira; o Fosso, uma abertura gigantesca nas pedras que guarda um poço de águas geladas e cristalinas; o Vale dos Cristais, um aglomerado de cristais sob nossos pés que marcam a paisagem com sua brancura; a Ventana, uma janela aberta entre as pedras em que é possível avistar o mundo lá embaixo; as Jacuzzis, lagos naturais que formam banheiras onde é possível tomar banhos maravilhosos e o cume, numa formação chamada Maverick.

O ponto mais alto é um espetáculo a parte, lá não só a beleza de tudo o que vimos nos encanta, mas sim a trajetória de tantas subidas e descidas, altos e baixos, dores e prazeres que nos trouxeram até ali. Fim do roteiro no topo, é hora de descer. E se você até hoje repetiu indefinidas vezes “descer todo santo ajuda”, prepare-se para rever seus conceitos em um dia de descida muito pesado, em que você andará quase 14 km e ao final da jornada se sentirá moído. No último dia de caminhada, os 15 km finais são de despedida. Retornamos à aldeia de Paraitepuy sãos e salvos, confraternizando com a melhor cerveja quente das nossas vidas.


O roteiro de viagem exige preparo físico, mas nada inalcançável. Alguns meses de caminhada e musculação são suficientes. Seu corpo deve estar preparado para 7 dias de muita atividade, muito suor, muita dor muscular. Enquanto isso, sua mente deve estar preparada para viver em um estado de paz, liberdade, contemplação e uma observação atenta de seus limites talvez nunca antes feita. Os mesmos trechos que causam dor, causam um extremo prazer, uma alegria incomparável. Ao final da viagem nos surpreendemos com o fato de os momentos de dor se tornarem lembranças boas e felizes.


A montanha reserva lições de vida muito ricas e para cada um a viagem é única em essência. Vivemos dias muito intensos de esforço, nos observando atentamente e sendo “cuidados” pelos companheiros de viagem, pelos guias e pelos indígenas que nos acompanham. Percebemos que conseguimos vencer mais obstáculos do que imaginamos e isso nos dá uma força muito grande. É possível se apaixonar imensamente por um lugar!

 

Paula Quintão

 

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5 Comments

  1. Rodrigo

    Oi Paula, primeiramente parabéns pelo blog! Veja se pode me ajudar: pretendo ir ao Monte Roraima e lendo seu relato vi que você foi tanto em julho quanto em dezembro. A princípio iria em julho, mas li muito sobre chuvas e que o ideal seria entre dezembro e março. Qual foi sua percepção? Aproveita-se muito mais indo no período de “seca” mesmo ou vale a pena em julho também? Obrigado!
    Abs,
    Rodrigo

    1. Paula Quintão

      Oi, Rodrigo! Bom dia!
      Veja, eu fui em junho de 2011 e o tempo estava ótimo. Fui em dezembro de 2011 e choveu muito, muito, muito. Fui em junho de 2012 e choveu bastante também. Aquela terra não tem épocas de total seca, você sempre vai correr o risco de encontrar chuva no seu caminho. Então o melhor a fazer é escolher sua data, comprar sua passagem e ir. Você terá uma boa experiência de qualquer jeito.

      1. Rodrigo

        Oi Paula, obrigado pela resposta! Pelo visto a chuva realmente não atrapalha a experiência, então dá para ir em qualquer época do ano. 🙂 Valeu! Abs, Rodrigo

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