LUZES EM FORMA DE RESPOSTAS

Selecionei para esse domingo três das tantas questões que recebi por email e por mensagens para responder no texto de hoje. Na próxima semana responderei a algumas outras. São pedidos de luzes que responderei com base nas vivências que tive ao longo do meu Caminho de Santiago e que fazem parte da história do meu novo livro, O Caminho Que As Estrelas Me Viram Cruzar.

 

sobre ouvir a intuição, uma questão de Rosangela Braga

“Minha pergunta é se em algum momento nesse caminho vc deixou de lado seu planejamento e seguiu sua intuição.. ?!” Rosangela Braga

Pelo Caminho confirmei que a intuição é a maior de todas as nossas inteligências. Ela vê longe, vê além da curva. Vou te contar como eu fazia e no meu livro você poderá ver isso mais profundamente em cada uma das minhas páginas…

O que eu fazia, todas as noites, era me sentar a sós com meu mapa e planejar a caminhada do dia seguinte. Eu sentia um prazer imenso ao olhar aquele mapa e ver os pontos marcos por onde eu passaria no dia seguinte, quantos quilômetros eu poderia percorrer, as paradas para tomar um café ou almoçar. O planejamento sempre me encanta. Acontece que no dia seguinte eu não precisava mais olhar aquele plano, ele era minha referência apenas e eu seguia a observar as pistas, as luzes, as revelações que a vida trazia. Aprendi muito sobre flexibilidade, sobre estar atenta aos sinais e sobre a vida ser essa grande mágica em que as respostas são todas providenciadas pelas sincronicidades. Estar atenta ao que a intuição vai mostrando é a melhor forma de seguirmos em direção à surpresas muito melhores do que aquelas que planejamos.

Percebi também uma grande diferença entre intuição e medo, a intuição expande nosso olhar, nos mostra alguma luz, enquanto o medo nos fecha, nos oprime. Na minha terceira noite de Caminho eu soube que não era para ficar naquele albergue municipal, olhei para ele e minha intuição disse muito simples e sutil “não durma aqui”. Mas eu não obedeci. E vivi uma das noites mais perturbadores de toda a minha peregrinação. Conto essa história nas páginas do meu livro, foi uma noite terrível. Claro, dela eu tive várias lições, mas a principal foi que eu deveria ser totalmente fiel à minha intuição, jamais trair a mim mesma duvidando do que eu senti, dos alertas que tive, das percepções que recebi como aviso.

Você pode também assistir ao vídeo onde respondo à essa pergunta.

sobre a procrastinação, uma questão de Alex Dobroca

“Boa noite Por Paula Quintão. Tenho muito projetos, mas estou sofrendo de procrastinação, estou precisando de um help, obrigado” Alex Dobroca

Eram 800km, ao todo caminhei por 36 dias. E nem todos os dias eu tinha vontade de caminhar, nem todos os dias eu tinha vontade de me colocar a arrumar minha mochila às 6h da manhã, nem todos os dias eu queria sair ainda antes do amanhecer para uma caminhada de horas e horas. E eu sabia que era importante me levantar e me colocar em movimento, eu estava lá só para isso, mas tinha dias que era bem difícil tomar essa decisão e começar meu dia.

Entendi a que a procrastinação é só uma forma de expressão da nossa alma que pede um pouco de atenção. Se sentimos que é preciso fazer algo, se sabemos que algo é importante, e mesmo assim não fazemos, tem uma parte de nós que não quer fazer. Ao invés de forçá-la a fazer, temos que entender a dor que ela carrega, a mensagem que essa parte está tentando nos enviar. Pelo Caminho, e hoje pelo dia a dia, eu converso com meus sentimentos, todos eles, perguntando o que eles estão tentando me contar. E com a procrastinação não é diferente… Mas havia um elemento por lá que percebi ser essencial para que eu conseguisse completar minha jornada… a força do grupo, a força dos peregrinos que todos juntos, cada um no seu tempo, seguiam rumo à Santiago.

Quando estamos na companhia das pessoas certas, temos mais energia, temos mais entusiasmo. Também quando respeitamos nossos tempos e nossos ritmos, sem nos apressar, entendendo que é no tempo da natureza que as coisas acontecem, também ganhamos mais energia para realizar.

Você vai encontrar no meu livro muitas das minhas histórias em que eu amaria ficar na cama mas que de alguma forma uma força me levantou e me trouxe energia para completar minha caminhada naquele dia.

 

sobre os momentos de baixa energia, uma questão de Luciana Maia

“Quando dá um sentimento de baixa, baixa energia, o que fazer?” Luciana Maia

Por muitos dias eu tive vontade de pegar um táxi e acabar logo com aquela caminhada. Por muitos momentos minha vontade era parar em uma cidade grande, encontrar um bom quarto de hotel e por lá ficar pelo resto dos meus dias programados para o Caminho de férias, pernas para o ar, frequentando deliciosos restaurantes espanhóis e comprando delícias diferentes no supermercado. Esses momentos de baixa foram muito comuns em minha jornada de 36 dias e o que mais percebi foi que ao seguir em frente ou mesmo depois de parar um pouco para descansar, esses momentos passam.

Nas páginas do meu livro narro muitos e muitos dias em que eu acordava ótima e plena e de repente eu me sentia péssima, cansada, super de mal humor, super desanimada. Era assim, de repente…

Fui percebendo que a sensação de cansaço, desânimo, irritação, baixa frequência, vontade de largar tudo e voltar para casa é passageira. E para que ela passe, percebi em mim, preciso me colocar à disposição para ouvir minhas próprias queixas, ouvir qual parte minha está reclamando de algo, fazer um balanço sobre o que é possível atender ou não naquele momento, encontrar um meio termo, dar uma pausa, enriquecer o momento com algo que eleve a frequência, no meu caso talvez um pé na grama, uma caminhada pela cidade, um caderno para escrever, uma boa música ou uma conversa descontraída, e me abastecer para então seguir em frente.

Você pode encontrar mais das minhas histórias e lições recebidas pelo Caminho de Santiago nas páginas do livro O Caminho Que As Estrelas Me Viram Cruzar ou aqui nos meus escritos de domingo. Semana que vem responderei a mais questões que me enviaram usando algumas luzes que recebi no Caminho de Santiago.

 

Paula Quintão

15 de outubro de 2017

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