Maestros, por Paula Quintão
Caminhando por Montevidéu encontrei o Teatro Solis. Fui ver a programação. Como era aniversário da minha irmã imaginei que poderia ter algo mais especial para incluir no meu dia. E tinha: às 21h a Filarmônica apresentaria o “De Los Alpes a Las Sierras”. Comprei a entrada e me organizei para no horário estar. E assim foi. 21h eu estava no meu assento bem posicionada de frente para o lindo palco. Os assentos foram pouco a pouco todos ocupados. Vieram os músicos. Desligamos nossos celulares. E a beleza de composição iniciou-se. O pianista. E os violinos. A harpa. As flautas. Os trompetes. As percurssões. E ele: o Maestro. A divina impecabilidade da entrada de cada instrumento, a estado de cuidadosa execução que cada um dos músicos alcançou, a magia da música. Tudo isso estava lá. Mas sobretudo estava o Maestro. O Maestro ao centro. Seu corpo se move criando a música. Seu olhar eleva um tom. Suas mãos dançam e criam, chamam, convidam, calam. Sua batuta fazendo dele, como a varinha de um Mago, um encantador de músicos e de plateia. O Maestro em sua postura é o inspirador do Maestro que há dentro de nós, esse condutor que traz a Unidade das tantas músicas que tocam em nossa alma, das tantas luzes e sombras a serem coordenadas. O Maestro precisa estar lá, bem posicionado no palco da nossa vida, guiando o orquestra que somos. Quando for hora de agir, termos a ação bem convocada; quando for hora de expressar, a guiança do “vamos, diga”; quando for tempo de despedida, não perdermos o bonde; quando o medo vier, a sabedoria do que fazer; quando a má conduta convidar, a clareza do que escolher; quando os bons ventos vierem, os pés no chão saberem ser âncora; quando as perdas baterem à porta, a coluna dignamente ser erguida; quando a chuva de verão cair, conseguir ir lá fora sorrir um instante sob as águas; quando o amor tomar-te, a coragem de abrir o peito num respiro profundo e entregar-se em confiança. De cena em cena, a melhor parte de nós sendo convocada a atuar em consciência pelo Maestro. Ele abre as portas do caminho enquanto destrava e convida as partes a tocarem sua música. Em Unidade. A assumir, em nós, o Maestro que somos.