Medo não se vence com coragem. É, não é assim que a coisa funciona. Colocar coragem soterrando um medo tem pouco ou nenhum efeito. É, você pode até conseguir fazer o que precisa ser feito mesmo com medo e chamar isso de coragem. Mas não, com essa postura você está gerando um grande estresse, é uma forma de abuso. Nessa foto, estou prestes a terminar meu curso de paraquedismo e vivendo um dos episódios de grande medo ativo da minha vida – tive outros intensos, mas esse foi um momento muito especial, porque graças a ele eu pude compreender com mais clareza como atua em nós o medo. A história dessa cena contei no meu spotify, Sessão de Enroscos ep.53, aqui quero ir no centro da questão: o medo é uma argumentação da sua mente em parceria com sua emoções para indicar um alerta de perigo real. Esse argumento nasce de uma experiência REAL já vivida e constatada por você mesmo ou pelo seu DNA. O medo, esses bem enraizados, vêm portanto de uma constatação vivida e que trouxe como resultante um “deu ruim”. Quando você adiciona a coragem – em essência um “agir pelo coração” – como remédio para tratar o medo, você não está tratando nada. E ao contrário de “agir pelo coração” você está se forçando a tomar uma ação para que a partir dela o medo encontre outros argumentos e talvez “cale a sua maldita boca!”. É, pode funcionar como medida paliativa, mas o medo seguirá lá, rodando em plano de fundo e argumentando, ainda assim, que “aquele caminho vai sar ruim”. O tratamento para o medo é descobrir a origem da argumentação, ou pelo menos o contorno do argumento que esse medo tem. “O que o medo diz?”. Quando você finalmente se dedica a ouvir o que o medo diz e ao invés de tentar demovê-lo daquela perspectiva, você adiciona visões de mundo e novos conhecimentos, você dá a oportunidade de integrar a fala do medo com novas falas que nascem a partir da sua experiência – capaz de contra argumentar e demonstrar “calma, medo, veja, por aqui estamos seguindo em segurança”. Aí, sim, entra a coragem. A coragem como aquela que, uma vez ouvindo-se e mapeando-se o medo, é capaz de conduzir, pelo coração, o movimento.