Minha Irmã, Meu Adeus

Minha irmã, meu adeus. Sobre a morte e as despedidas. 

Nessa segunda, dia 21, minha irmãzinha se foi. Acontece de os momentos da morte trazerem grandes portais, bem me avisou minha amiga Elisa Rodrigues.

Para minha sorte, eu percebi que a semana de internação da minha irmã poderia ser uma semana de despedida dessa vida. O custo da consciência é às vezes ver coisas assim, difíceis demais. O bônus é poder fazer escolhas. E eu pude escolher estender minha reserva na Localiza e ao invés de voltar de Juiz de Fora na segunda, retornar somente uma semana depois no sábado.

Passei uma semana no hospital como acompanhante da minha irmã – que estava doente mas com um quadro perfeitamente tratável, usando a expressão que o Dudu, marido dela usou ao me avisar da internação. E como irmãs vivemos ótimos momentos. Desde viver um instante manicure dentro do hospital até comer todos os melhores pratos do uber eats enquanto ela teve vontade de se alimentar.

Minha irmã sempre foi muito corajosa e determinada. E essa semana não foi diferente. Desceu a ladeira em direção à sua partida muito decidida. Foi triste e bonito ao mesmo tempo de tantas e tantas formas.

Toda a dor de constatar que seu quadro ficava cada vez pior tão rápido. Todo o exercício de me manter no meu lugar sabendo que não era possível salvá-la. Toda a beleza do olhar de amor infinito dos meus pais vendo e reconhecendo onde tudo aquilo daria e tão capazes de concordar com a grandeza da vida. Toda a admiração por ver minha irmã completar sua missão com tanto sucesso. Ela foi ficar com o filhinho mais velho que faleceu com 7 dias de vida por ter nascido prematuro. O André. Não que ele demandasse dela esse cuidado, quem parte desse mundo só quer que a gente viva bem, mas ela como mãe, ficou evidente, compartilhou com o homem da sua vida a tarefa de cada um cuidar de um dos filhos.

Ficou o Daniel, um bebê fofo em seus quase dois anos que ganhou de sua mãe o presente da vida e toda a base alimentar que por toda a sua história fará tanta diferença. Ficou o Dudu e toda a sua amorosa família, com quem ela, mesmo partindo em seus 33 anos, viveu 17 anos juntos. Ficaram meu pais, sempre com aquele ar de “foi melhor assim, minha filha”. Ficou a Clara, minha filha, com aquela vontade de dizer mais uma vez “oi, titiiiia”. E fiquei eu, eu e meu coração expandido que pode aumentar de tamanho para que todo esse momento e todo o destino da minha irmã coubesse inteiros dentro de mim. 

Recebi muito esses dias. Com a calma e a delicadeza que merece, aos poucos, tudo que se expandiu em mim ganha forma de escritos.

Por hoje o que tenho a partilhar são essas linhas.
Obrigada pela escuta amorosa e acolhedora.
Meu abraço,
Paula Quintão.

 


Pude escrever hoje um email sobre a despedida da minha irmãzinha. Tão triste e tão bonito ao mesmo tempo toda a expansão que meu coração viveu graças à sua partida. Agradeço uma vez mais a presença afetuosa de cada um nesse momento de travessia. A presença é soberana. Foi tão maravilhoso o velório e o enterro da Bruna entre tantas pessoas amigas de épocas tão diferentes da vida abraçando a todos nós. O mesmo o que recebi via whatsapp e aqui pelo instagram e facebook. Muito amor chega pela presença, ela acolhe e abraça. Obrigada. Por hoje, encerro com uma frase que por muito tempo esteve nas paredes do meu apartamento em Manaus: “Só tem que chorar a morte, quem morreu sem ter vivido”, do Jorge Amado. Irmã, honro sua existência nesses seus bem vividos 33 anos e agora, por você, eu vivo ainda mais. #luto #despedida #irmã #euvivo #vidaeutehonro