Aconteceu de no domingo meus plantios viverem um pequeno desastre não natural: a cachorra se entediou de ficar presa e resolveu usar seu corpinho de Rottweiler para derrubar todas as minhas sementeiras. Suspeitei que poderia acontecer, mas deixei. Só que quando o desastre se concretiza a voz que diz “eu avisei” gosta de vir de canto no pensamento.

“Eu deveria ter tirado as coisas de lá”, isso eu já estava chorando, porque me entristeci com as mudas da rúcula e de maracujá recém germinadas todas perdidas no chão. Se foram as cenouras. Se foram as couves. Se foram os milhos crioulos. E o pior: se foi a costela de adão que eu estava há 2 meses vigiando enraizar. Perdeu as vigorosas 3 folhas, foi pisoteada, arrancada inteira. Sobrou a raiz, provável que um dia conte uma história de sobrevivente. Acontece que fiquei triste. Uma parte de mim. A outra ainda não foi lá recomeçar, mas irá.
Meu marido ficou acompanhando minha fala de choro providenciando o que podia. Pegou mais uma mesa para as próximas sementes. Pediu logo por um portão. E no mesmo instante se passou algo: na porta de casa ouvimos um “ai!”. Era um garotinho, Murilo, caiu da bicicleta e se ralou todo. Fomos ver o estado da arte. Nisso o menino já estava se levantando, batendo nas perdas pra tirar a areia, todo esfolado, e se preparando pra voltar a pedalar. Meu marido não perdeu a deixa: “é isso aí, ó”.

A vida e a arte de tecer em símbolos. Bem na cara. Ainda estou por sacudir as terras todas que estão derramadas na área. Ainda estou por refazer as sementeiras. Já replantei a raiz da costela de adão. E “é isso aí, ó”. Refazer e avançar. Nada é perdido. Tudo é caminho.
Em tempo: Travessia de Inverno do Espírito Selvagem, inscrições abertas. Por lá viveremos juntas a arte dos plantios – e agora também dos recomeços. Vamos juntas desde a simbólica escolha das sementes.
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Dia 21 de junho é solstício e iniciamos.