Não Pode Haver Poesia Numa Vida de Pressa

Tudo o que eu fazia nos dias em que estive em Assunção era vagar pela cidade com minha mochila nas costas parando de café em café para escrever um pouco, ler um pouco. Observar as pessoas, ver como elas são no Paraguai – essa moça da foto se demorou num café, parecia respirar entre um pequeno gole e outro, não mexeu no celular. A calma me acompanhava e eu pude observar a calma dela. É bom ter uns dias sem qualquer relação com o relógio. Sem que a pressa me assobie lembrando de correr por qualquer motivo que seja. Ontem numa palestra que participei o professor falava sobre a pressa. “Nada pode ser mais prejudicial para nossa evolução que a pressa. Quando há pressa não há presença, quando há pressa não há disponibilidade.” Tão simples, tão verdadeiro.

Aquele vagar pelas ruas sem qualquer pressa estavam concluindo minha passagem para um outro momento da minha vida depois dos tsunamis que aconteceram aqui. Percebo ser um grande livramento libertar-me de tudo aquilo que me apressa, que acelera sob meus pés a esteira da vida. A pressa come sem mastigar, atravessa as ruas como se o trânsito fosse uma pista de velozes e furiosos, impede que as frases se completem, não pode ser gentil pois não há tempo. Não pode haver poesia numa vida de pressa. Não pode haver contemplação numa vida de pressa, “ande logo pois estamos atrasados”. Adoentamos desse modo.

Fiz uma oração para que a pressa dentro de mim ceda lugar à presença, assim cresço, assim sou maior.

Assim é.