Da janela da minha cozinha eu posso avistar e conviver com o pomar do meu vizinho. Não é uma área muito grande, mas é grande o suficiente para ter pés de goiaba, laranja, limão, tem figo, tem chuchu, tem taioba. Há um ano estou a morar nesse endereço e há um ano estou a conviver com os ciclos da natureza que invadem esse pequeno espaço de paraíso.
Agora tem goiaba caindo no chão, tem taioba aos montes, tem laranjas pequenas esperando para amadurecer.
É um espaço da abundância, da vida em sua germinação, dos frutos em sua magia.
Vez ou outra eu me debruço na janela da cozinha só para observar o que se passa por ali. É um espaço tão vivo.
Os passarinhos são os que mais aproveitam tudo por ali. Salpicam de um galho a outro.
Acontece que nesse um ano inteiro, só vi os vizinhos passarem pelo pomar uma única vez. Era até uma moça em seu avental, foi até lá e colheu algumas laranjas. Nenhuma outra vez além dessa.
As frutas por conta própria amadurecem, caem no chão e por assim é.
Há um ciclo da natureza intenso naquele pomar, mas ninguém tem colhido nada, ninguém tem usufruído dessa magia.
Esse pomar me abastece pelos olhos, abastece os pássaros pelos galhos, abastece a terra com os frutos e as folhas que caem no chão. Graças ao sol, à chuva, aos ventos e às nuvens, tudo se frutifica dia após dia.
Mas a principal reflexão que sinto é sobre os pomares que temos em nossas vidas e não nos damos conta, ou das magias que temos ao nosso redor e não usufruímos, ou dos presentes que a natureza nos traz e não colhemos. Acredito que esse seja o principal símbolo que esse pomar não habitado traz pra mim… o quão importante é estar atenta ao que a vida me presenteia e eu não recebo, o quão importante é ter olhos atentos e coração agradecido a tudo o que recebo, o quão valioso é fazer uso do que o “nosso pomar” nos traz.
Estamos recebendo um mundo e nem sempre nos damos conta do poder, da força, da beleza, da importância de tudo o que já temos. E hoje, em oração, peço olhos para perceber, coração para agradecer e a vida para usufruir.
26 de fevereiro de 2017
Paula Quintão
OUÇA EM ÁUDIO.
Tão sincrônico sempre…
Recentemente me dei conta do meu quintal, das minhas possibilidades, dos “desusos” do meu espaço.
Bom ler em outro lugar o que o meu coração acabou de me contar. <3