Vaticano, Itália. Meus olhos se encantam com o obelisco que conecta céu e terra e com a grandeza de tudo que há na praça da Basílica de São Pedro. Aconteceu algo antes de estarmos no Vaticano, no aeroporto enquanto alugávamos um novo carro. Uma dança divina e humana diante dos meus olhos. O mocinho atendente da locadora cumpria sua obrigação de feriado e tentava cobrar todas as taxas não combinadas na reserva, nos apressando a dizer sim aos encargos e mistérios listados em euro. Ao nosso lado um senhor que também alugava um carro e buscava ajuda do atendente para ligar o carro. Nesse intervalo de olhares, um outro cliente ouviu o pedido desse senhor e percebeu que o carro que estava alugando era o mesmo que seu carro fixo no país de origem. Esse homem então começa, todo animado, a contar para o senhor que o seu carro próprio era aquele e que poderia ajudar, mil elogios de entusiasmo foram tecidos em língua inglesa. Você tinha que ver a alegria de criança que esse homem experimentava ao contar sobre seu carro.
Lá foram eles, o carro foi ligado, o senhor seguiu viagem e o homem voltou caminhando pelo estacionamento numa alegria que o fazia sorrir sozinho. Era lindo de ver. Veio caminhando macio e sorrindo pelo estacionamento. Enquanto isso, o atendente… bem, você sabe… Nosso contrato ficou com o valor três vezes maior, o que dá uma sensação horrível. E do outro lado eu via aquele homem experimentando uma alegria amorosa em sua alma.
Diante de mim, o divino ato da entrega do cuidar e do servir. Também diante de mim, o profano ato de lucrar sobre tudo e sobre todos que não traz alegria e não vincula.
O servir que cria trocas de valor e faz circular o divino tem o lucro como consequência, o lucro é como esse sorriso de satisfação que provoca um estado de barriga cheia, que alimenta não só os envolvidos, mas todos ao redor. O servir só pelo lucro nem é um servir, é um fazer mecânico que não gera satisfação, desvincula, fecha a vontade de trocar.
E diante do Vaticano, do Papa Francesco, de Francisco, dos ancestrais, o que sei é que o servir é um ato de amor que nasce da minha humanidade e se conecta a humanidade do outro. Divino, portanto. Andiamo. Conectados.
Paula Quintão, 21 de junho