Os olhos revelam muito sobre nós, sobre o que somos e sentimos. Talvez por medo de nos revelar criamos essa cultura que pouco se olha nos olhos, que não se atreve a parar por minutos em silêncio pousando os olhos sobre os olhos de um outro alguém a não ser que se tenha muita intimidade. Os olhos são janelas da alma.
Domingo passado fui constelar. Eu sabia que seria um dia inteiro de constelação. Fomos eu e minha amiga Thais. Ela que estava me visitando em Minas me acompanhou e eu seu sabia que amaria ver tudo aquilo acontecer diante dos seus olhos. É uma estudiosa do ser humano, socióloga por nascença.
(E nesse texto não vou explicar o que é a constelação, tenho três entrevistas que fiz com e se quiser saber mais, basta me escrever).
Importante pra mim é que saiba que a constelação revela as dinâmicas e as leis do amor, o amor puro e o amor cego, o amor que diz SIM à vida e o amor que diz NÃO à vida tentando compensar um não ao amor. O amor é a maior força da existência. Na constelação familiar tudo é tecido lindamente, uma sensibilidade sem igual. E de simples, natural como uma dança bem conhecida por nossa alma, a constelação se torna um rito de passagem dos mais poderosos.
O Andrei Moreira, que é o meu constelador, em sua precisão cirúrgica usa cada mínimo detalhe como forma de cura, cada mínima palavra de forma terapêutica e claro, usa cada olhar como um instrumento mágico de conexão e abertura do coração.
A constelação usa o sentir para revelar o amor e todos os outros sentimentos que estão vivos naquele contexto. E os olhos são um grande instrumento. Os movimentos do corpo contam uma história e são os olhos que revelam o que a alma tem para dizer. E eles falam. Falam sem usar palavras. Falam ainda mais quando estão em silêncio. Falam mais que mil frases poderiam dizer. Falam em um lugar da nossa alma que reconhece profundamente essa mensagem.
Somos leitores de olhares. É uma verdade. E nos emocionamos muito com o que encontramos ali.
O medo, a dor, a dúvida, a ansiedade, a timidez, o afeto, a curiosidade, o amor.
Ver os sentimentos é algo tão impactante para nós que aprendemos a desviar os olhos. Aprendemos a olhar só um milésimo de segundinho para o outro e passar sem graça os olhos em outra direção. Penso que seria a revolução humana se pudéssemos acabar com esse “sem gracismo” que sentimos e quando cruzássemos um com o outro fôsssemos capazes de nos olhar nos olhos por mais que milésimos de segundos. Faria muito impacto na alma de quem vê, também impacto na alma de quem é visto. Porque ver e ser visto se torna uma troca naquele instante em que miramos olhos nos olhos, uma troca das mais lindas do dar e do receber, do perceber e ser percebido.
E na constelação do último domingo pude olhar nos meus próprios olhos, pude olhar nos olhos do meu pai, pude olhar nos olhos da minha mãe. E se eu parar um instante posso chorar de emoção por todo o amor que vi e que em segundos consigo resgatar só de relembrar aqueles olhares e o mergulho que me permiti fazer neles.
Assim é para todos nós.
Se pudéssemos fazer um ritual em família só de silêncio e olhares, bem sei o quanto seríamos capazes de curar e liberar. Um ritual no trabalho. Um ritual a caminhar pela rua.
O olhar diz muito. E diz por muito tempo. Fica dentro de nós em forma de registro muito profundo.
O olhar é a janela da alma.
Lembro de uma vez na adolescência, era época em que eu ainda estava na escola e minha filha era bebezinha. Minha mãe se preocupava de eu dormir muito tarde já que no dia seguinte acordaria cedo para ir ao colégio, então quase todas as noites fazíamos um tour de carro pela cidade porque era certo que a Clara iria cair no sono em poucos minutos. Numa dessas noites, eu e minha mãe nos olhamos pelo espelho retrovisor. Um frio que estava… Minha mãe desejava tanto que eu estivesse bem. Ela tinha tanto amor naquele olhar. Era quase como me carregar no colo, eu e minha filha. E eu sentia tanta gratidão, era tão maravilhoso que ela pudesse dirigir e magicamente minha filha dormir nos meus braços.
Eu nunca vou esquecer aquele olhar da minha mãe pelo retrovisor. E nem a minha mãe, vez ou outra quando está frio ou quando falamos da Clarinha bebê ela conta essa passagem. Os olhares ficam. E os olhares de amor ficam ainda mais profundamente enraizados. Valem ouro, mais que ouro.
Somos leitores de olhares. E eles nos tocam profundamente. Silêncio e olhar, juntos, movem montanhas dentro de nós. Meu convite de hoje é que você se permita olhar e acessar o sentimento que vem desse portal que se abre. Um portal que vai direto ao nosso coração e à nossa alma.
Paula Quintão
02 de julho de 2017
Um ato muito simples e muito importante. Sensacional o texto. Obrigado.
E que sim, faz toda a diferença, Renato.
Estou “atrasada” com os textos de domingo… colocando a vida em ordem por aqui. Que texto incrível! Fiquei emocionada… Que profundo! Que maravilhoso! Que presente para o dia de hoje! Obrigada!
Sempre em dia, Juliana, estamos onde estamos. E que bom que você esteja hoje aqui na leitura, sempre bem-vinda.