Para esse domingo vou responder ao questionamento enviado por Rico Oliveira usando algumas luzes que partilho no livro “O Caminho Que As Estrelas Me Viram Cruzar”, minha história de vida e meus passos rumo à Santiago de Compostela.
Rico me pergunta.
“Querida Paula, o que o Caminho lhe revelou sobre saber dizer NÃO? Grato”.
A verdade é que todo o meu Caminho foi permeado de “nãos” e “sims” que eu me ouvia dizer para mim mesma. Paro agora para um café? Sim ou não? Durmo nesse hostel? Sim ou não? Ando mais alguns quilômetros hoje? Sim ou não? Entre meus “sims” e meus “nãos”, eu me percebi muitas vezes dizendo não para mim mesma, não para o cuidado comigo, não para me sentir tranquila, não para uma alimentação mais leve e saudável, não para hábitos que me fariam sentir mais presente.
O que percebi é que quanto mais eu dizia não para mim mesma, mais difícil era dizer não para os outros.
Para ser capaz de dizer, com autenticidade, sim ou não para os outros, nas demandas que criavam, nas sugestões que faziam, nos convites que surgiam, nos pedidos que apareciam, eu precisava estar muito presente a cada SIM e NÃO que eu dizia para mim mesma.
Uma das noites mais difíceis do meu Caminho foi a noite em que dormi num hostel que eu sabia que não queria ficar. Eu sabia que não era para eu ficar lá e mesmo assim eu fiquei. Conto essa história com mais detalhes no meu livro, nos capítulos iniciais. Naquela noite um casal de americanos fez sexo no meio de todos os outros peregrinos, uma sala com umas 50 pessoas dormindo não foi capaz de inibi-los. E eu senti medo, senti mal estar, me senti em risco. Acontece que a minha intuição tinha me guiado e me orientado a não ficar ali, mas por estar com uma amiga, por estar cansada, por não me importar tanto com o não que eu precisava ter dito, tudo aquilo foi como uma lição especial de “quando for preciso dizer não, diga não, suave e profundo, verdadeiro e preciso”.
É desse lugar de “corte cirúrgico” que hoje eu caminho. Sigo a observar e sentir o que meu coração me mostra, quais “sims” e quais “nãos” eu preciso dizer hoje. Às vezes podemos imaginar que o “não” vai nos limitar ou vai chatear as outras pessoas, quando às vezes será a maior de todas as liberações – liberações de nós mesmos e liberação do outro por ele poder enxergar a verdade que ocupa nosso coração.
Paula Quintão