Era naquele airbnb que eu ficaria durante a estada em Belo Horizonte em dias de Escape. Um quarto no apartamento da Niusa.
Cheguei. Uma baiana.
“Oi, Paula, deixa eu abraçar você. E veja aqui, que bom te receber”.
Foi me mostrando tudo, primeiro a cozinha, e dentro da geladeira.
Quando as pessoas nos recebem abrindo a geladeira me encanto, me lembro da minha avó Selma, ela e sua acolhida, ela e sua alma abundante que tem tudo a oferecer, ela e sua generosidade de um ato que diz “aqui você também é bem-vinda”.
E lá dentro da geladeira da Niusa, entre potes bem organizados, estava o iogurte que ela mesma faz e serve no café da manhã. “Raridade”, pontuava a plataforma do airbnb. Admiro quem faz o próprio iogurte. E quem faz o próprio pão. E a geléia. E a pasta de amendoim. Há algo na alma dessas pessoas que anuncia autocuidado, autoamor. E meu coração se abastece só de ver, lembrando de se amar também.
“Você vai ficar no meu quarto porque tem aqui um músico cego que me pediu para ficar mais uns dias”.
O quarto todo cuidado.
E a chave.
E a porta.
E a sensação de casa.
Ela me contou da sua história. Da dor de perder seu filho com 12 anos. Da depressão tão severa que viveu. Dos anos morando no mosteiro budista. Do seu pai quando partiu. E eu saí de lá em encantamento. Com o peito cheio por ver como é bonito quem recebe bem, como é bonito ser gentil com as pessoas e com a gente mesmo, como é afetuoso sorrir e abraçar, como um sorriso quando a gente chega faz diferença.
E eu só pude enxergar toda essa beleza porque a vida vai me dando as pistas e os símbolos para que eu aprenda também a ser assim, a abrir mais meus braços, a sorrir mais com o coração, a receber quem chega na minha vida com carinho.
E à Niusa agradeço as lições, a sábia presença que me ensinou tanto.
27 de novembro de 2018