SEMANA PASSADA ESTIVE EM RETIRO DE SILÊNCIO. Até por isso o tradicional texto de domingo veio dessa vez na segunda.
O retiro de silêncio é uma saudação à solitude, uma apreciação da própria presença e do mundo interior, uma admiração do que se passa fora como um reflexo do que há dentro.
Quem guiava o retiro era o mestre espiritual Sri Prem Baba, um ser iluminado que admiro muito e que traz palavras que ecoam com muita energia e verdade dentro de mim.
Eram 4 ou 5 dias sem nos comunicar uns com os outros em todos os níveis. Nem por fala, nem por olhares, nem por gestos. Nos preparativos para viagem para Alto Paraíso, Chapada dos Veadeiros, fiquei pensando qual seria meu nível de dificuldade. Sondei e descobri que poderia escrever. E isso já me deixou aliviada… estar com meus escritos é uma das formas mais poderosas de aliviar o que alma precisa expressar.
E, para minha surpresa, meu nível de dificuldade com o silêncio foi zero. Nenhum dificuldade. Só alegria, só felicidade, só leveza.
Era fácil me sentar na mesa com pessoas também em silêncio sem pedir licença, ou começar meu dia sem dar ou receber um bom dia. Ou chegar na tenda que dividia com uma companheira de quarto, e mesmo sem saber seu nome, escolher a hora de apagar a luz, me recolher nas cobertas e dormir profundamente.
E sei que o silêncio só foi tão leve porque um processo me trouxe até aqui, um processo que começou há muitos e muitos anos, ainda em tempos de escola.
Há anos minha alma vem se preparando para o silêncio. Ainda pelos meus 16 ou 17 anos, eu passava os intervalos do colégio na capela, era minha forma de criar um espaço só meu, em silêncio, em minha presença. Foi um dos primeiros movimentos que fiz nessa vida de cultivo da solitude, um entendimento profundo que no fim das contas sou eu comigo mesma, que no fim das contas minha presença precisa ser ótima para mim.
Toda a dificuldade em entrar em meditação, em silenciar a mente falante, em me manter em presença, em fazer ser leve o tempo do silêncio, algo que nos últimos anos trouxe como prática na minha vida, principalmente nos últimos meses, foi abrindo caminho para que o silêncio pousasse com leveza e se comunicasse com gentileza.
Silenciar é um processo, um processo que começa de um lugar de grande caos interno, em que todas as vozes esperam ser ouvidas e falam todas ao mesmo tempo, até um ponto em que só há uma respiração que entra e sai, até um ponto em que não há nada, só há um vazio, um vazio que preenche tudo. E nesse processo, pequenos passos nos levam a uma conexão mais profunda com nós mesmos e com o vazio que nos habita.
O silêncio diz muito, diz mais do que as palavras. O silêncio diz em profundidade o que a alma precisa escutar. O silêncio nos traz para nossa própria presença.
O silêncio mexe com as profundidades do que está dentro de nós. Silenciar é nos abrir para o mundo que existe aqui dentro, esse que nos diz quem somos, para que viemos, para onde vamos. Silenciar é um processo que começa com respostas e alcança o nada, o vazio, o só estar, a presença no agora.
O silêncio tem a capacidade de abrir os olhos que percorrem a alma em busca de respostas, de entendimentos, de conexões, de pontos de luz. Sou grata ao que o silêncio trouxe para minha vida, não só nesse retiro de alguns dias, mas a todos os pequenos momentos em que pude cultivá-lo. Que sejam alguns minutos do meu dia em que posso fechar os olhos e me voltar para dentro. Que sejam minutos que posso me conectar somente com minha respiração. Que sejam minutos em que posso estar totalmente presente no agora e em minha presença.
Siga abastecida, agradecida. Que o silêncio possa nos preencher dia após dia e me conecte com a mais profunda essência que mora em mim.
Paula Quintão
11 de julho de 2016
Que texto mais lindo!! Emocionada aqui sobre “o escutar o que se passa por dentro”, sobre escutar o nosso eu interior, nossa intuição e aprender a nos sentir confortáveis e felizes com nossa própria presença! Quero muito um retiro desses ainda! Um beijo grande!
Amei!