“Uso a palavra para compor meus silêncios”, vez ou outra o meu pensamento cita o Manoel para eu mesma ouvir. Meus tempos de viagem são um misto de tempos de silêncio, tempos caminhando e caminhando, tempos percebendo o que as pessoas trazem, tempos refletindo sobre o que está para pousar no papel e tempos de boas surpresas nos encontros. Enquanto escrevia esse texto a moça que tinha se sentado na minha frente veio se sentar ao meu lado. Luciana, do Peru. Viveu uma separação e veio passar um tempo a dissolver suas dores caminhando e encontrando seus amigos que moram em diferentes cidades da Europa. E assim se refaz, como a fênix ressurgida das cinzas. Eu contei dos meus estudos sobre as perdas do meu último livro e sobre como sempre há um “treasure”, um “gift”, uma dádiva oculta nos aguardando logo ali na frente se seguimos em caminhada. Seus olhos se encheram de água, foi lindo de ver. Compondo também ela seus silêncios, bem ali diante de mim. Estamos todos a compor nossos silêncios, humanos tão humanos, onde quer que estejamos, de onde quer que tenhamos vindo, para onde quer que estejamos a caminho. Cada um com suas demandas internas, seus refazimentos, suas superações. Somos todos apenas humanos compondo nossos silêncios.