Vou Pelas Flores

Aos sábados gosto de ir à feira. Acordar cedo e caminhar até lá me agrada. Ando uns 5km, vou devagar como se tivesse mais idade que tenho, “sendo velha enquanto nova”, como diz a Clarissa Pínkola. É que ir a feira tem seu lado “de idade”, não me levem a mal. Vou pelas flores. Acabo trazendo as pamonhas. O doce mineiro, que tem um adesivo questionável de diet, mas que finjo me convencer. O quiabo fresco. O cheiro verde. O queijo minas. Regulo o que vou trazer pelo peso que meu embornal vai ganhando. Com o embornal incorporo a criança aventureira exploradora que eu costumava ser nas férias no sítio dos meus avós. Isso contrabalança com a anciã que se apropria de mim antes que eu saia de casa. Vou ouvindo minhas músicas, caminhando num mundo a parte com a trilha sonora que o dia pede. O senhor das flores me conhece. Sabe da anciã, e com o olhar aponta pra mim onde estão os maços mais frescos de rosa. Sabe da criança, e anuncia um valor de quanto ficou mas sempre me cobra menos, como uma travessura de quem quer agradar uma menina. E com as flores nos braços, me sentindo maravilhosa, inicio meu caminho de volta. Chego em casa, guardo tudo e preparo as flores para os vasos. Espalho pela casa. E a mulher que sou se alegra com como fica bonito. Minha casa está preparada para mais uma semana. // hoje trouxe as rosas e esses cravos lindos que nessa feira são raros de encontrar.