A Ausência da Pressa, por Paula Quintão.
Com mala e sacolas, devidamente caracterizada para a viagem de barco, eu cheguei ao porto hidroviário de Manaus com as duas horas de antecedência para a saída do barco. Chegamos eu e minha amiga às 8h30. O barco saia às 11h. Compramos garrafas de água, sacamos dinheiro e conferimos nossas instalações. 10h30 e imaginamos que estaria quase partindo. Mas não. Passaram os homens fardados da Marinha com o capitão do barco. Nas frases soltas que ouvi: estavam conferindo a lotação – o que é louvável, pois não custuma haver muita fiscalização. Devo dizer que o tempo foi passando, simples assim, o tempo só foi passado e absolutamente nada em mim e nem nos cerca de 800 passageiros desse barco pareceu mobilizar a pressa. Eu nem percebia que estava se alongando tanto o tempo da partida, seguia ajeitando minhas coisas, conversando com um e outro e iniciando o projeto de comer das maçãs. O pessoal da Marinha estava de novo no corredor e falavam sobre um outro barco que afundou. Já era mais de 13h. Mais frases soltas que no meu entendimento significava: “estão cuidando de algo na segurança do barco”. 13h30 e resolveram avisar num megafone que funcionava mal: “em 30min vamos sair, obrigada pela compreensão”. Entendemos o que houve: nas inspeções a Marinha viu que faltavam boias e o barco só poderia sair se houvesse o número exigido. Então a solução foi irem comprar. 🤣🤣🤣. Passou mais 10min e o moço do megafone voltou: “em 40min vamos sair”. Uai… hahahahah 10min atrás avisaram que sairiam em 30min…. Dali a pouco desceu um carro, entre os muitos carros que chegam ao porto, com um carregamento de boias. Gente! 😂Só em Manaus. Umas 15h nós começamos a sair. Só depois de um tempo navegando pelas águas do rio que eu me dei conta que a minha pressa e ansiedade não tinham participado daquela cena comigo. Elas estava ausentes. E eu pude ver a Paula sem sua típica forma de apressar as cenas. Eu simplesmente não tive pressa, nem ansiedade, nem me contrariei com nada. Era simplesmente a cena acontecendo. E foi uma cena ótima. “Paula, grave essa referência: apenas permita que as cenas aconteçam. Viva a cena.” Eu anotei dentro de mim, “é simples”.