Essa é a Única Finitude que Um Dia Eu Saberei Ser Real: o Instante Agora

O Frans me disse: “aproveite quando estiver por aí escrevendo e se pergunte o que é o tempo”. Durante minha viagem de janeiro à Alemanha eu usei parte dos meus dias para mergulhar nessa pergunta. O tempo em si não existe, o tempo é medido porque vamos percebendo mudar algo na matéria – um caminho feito, a infância que vira velhice, o ontem que amanhece num novo dia. O tempo tem a ver com um espaço ocupado pela matéria, me dei conta. A ideia do tempo finito, esse tempo que se esgota, é irreal. Como o tempo poderia ser finito se ele só existe por causa de referenciais que criamos na matéria? O tempo é infinito. O que tem finitude é a matéria. Tal qual um lado da ampulheta se esgota e entendemos que foi o tempo que se esgotou. Não, o que se esgotou foi a matéria disponível naquele espaço e portanto o referencial que tínhamos para contar o tempo. Se essa mesma ampulheta é virada de ponta cabeça uma vez mais, lá está: o tempo recomeça a ser contado. Assim é com cada dia vivido. Assim é com uma existência inteira vivida. Assim é com uma viagem. O que importa pra mim hoje é perceber que o referencial do tempo está em mim: como estou preenchendo a matéria do espaço vivido. Ou seja, como estou vivendo cada um dos meus dias e o quão presente estou nele. Pouco a pouco minha ansiedade no tempo, na pressa, na urgência, no anda-logo-que-eu-não-posso-perder-tempo se acalma. Caminho mais presente na matéria, porque essa é a única finitude que um dia eu saberei ser real: o instante agora.