Descobri que a pousada que estive em Brumadinho há uns anos numa visita que fizemos eu e o Leonardo foi destruída pela lama. O dono faleceu, alguns hóspedes faleceram. Tudo se perdeu. É triste.
De lá eu tinha muitos vídeos que usei para o lançamento do trailer do meu ebook Oficina de Redação na época. E um é esse da gaiola, da saída da gaiola. Se você olhar com olhos despertos é possível enxergar a própria metáfora da vida nesse vídeo, sua brevidade e a morte como um instrumento de libertação para além da vida. Vamos de etapa em etapa saindo para além das gaiolas.
Do útero de nossas mães nascemos para esse mundo, desse mundo nascemos para algo maior. Da inconsciência para a consciência. Sempre em processos de vida-morte-vida, nos despedindo das gaiolas e expandindo, expandindo, expandindo. Quando uma etapa morre, uma nova etapa se inicia.
Quando um processo se finda, um novo processo se abre. Quando uma vida nova começa, só começa porque algo precisou terminar. E assim todo o universo é capaz de dançar no tom em que nada se perde, tudo se transforma, em que nada é permanente, tudo é vida-morte-vida. Um universo que está continuamente nos ensinando a criar, uma criação que só é possível graças a algo ter se findado, sido destruído, morrido. Fazer as pazes com a morte, com os encerramentos, com as despedidas, é parte essencial da vida.
Para ter o lugar de respeito que merece, a morte – não só como o fim da vida, mas de todos os processos e transformações que vivemos – merece lugar de respeito e integração, só assim seremos inteiros e capazes de avançar pela vida de fato vivendo. Porque enquanto estivermos querendo afastar a morte, não olhando em seus olhos mesmo que assustados, não seremos inteiros. Ao tentar repelir a morte estaremos todo o tempo tentando escapar de algo invisível, um perigo eminente, e não viveremos de verdade – o que paradoxalmente significa antecipar a própria morte.
O medo da morte nos impede de viver. Repito como forma de grifo: o medo da morte nos impede de viver. Só há uma posição possível: eu sou a vida, eu sou a morte.
Paula Quintão
05 de fevereiro de 2019