A Condução Pelos Caminhos

Não escolho os destinos pelos pontos turísticos, nem sei o que tem de turístico nas cidades que estou. Aprendi a ser conduzida por outro algo, por outro referencial. Aprendi a confiar nesse referencial interno que sabe onde meus olhos, meu corpo e alma precisam estar. Deve haver um motivo, obviamente, para meus instrumentos escolherem um ponto entre tantos no mapa. E eu confio, mesmo sem saber racionalmente o porquê. Hoje escolhi estar por todo o tempo que havia para caminhar por Frankfurt dentro da estação central de trem. Frankfurt Hauptbahnhof. Também ontem na deserta calada da noite, cheguei por lá. E ao escolher onde ficaria, foi nas redondezas da estação que escolhi ficar. Não tem uma lógica, tem um sentir. Eu confio. Vou até onde preciso ir e fico lá, como se eu fosse uma antena, acredito.
Vem do meu espírito, meu eu maior, a condução pelos caminhos. É algo maior que eu que cria um norte para o meu coração que tal qual uma bússola de precisão responde: “sim, é por aqui”. Hoje perguntei várias vezes. “E a catedral, não quer ir lá?”. Resposta: não. “E o tal lugar que leu sobre, não que ir?”. Resposta: não. Da estação, o ir e o vir, as mães com seus filhos, algumas mais apressadas que outras, um jovem com seu fone de ouvido gigante, um moço no balcão do café entregando um currículo. Aquele currículo em especial me tocou. Foi tímido o jeito como o moço entregou o currículo sobre o balcão para o indiano que atendia aos pedidos. Não havia vagas para trabalhar, o indiano nem tocou no papel ou deu qualquer esperança. Quem entrega um currículo está em busca de reconstruir algo, isso é certo. Um currículo entregue é sempre aquele suspiro profundo de quem busca um amanhã melhor que um hoje. Não seria ali o lugar de reconstrução daquele rapaz. Foram lances de olhos que me sensibilizaram. Encontrei o exato lugar dentro da estação para sentar, assistir as pessoas, escrever as linhas que se compuseram no meu caderno, terminar meu café gigante – que claramente demonstra que era mesmo naquela mesa que deveria sentar – e por fim retornar ao hostel para encontrar meu amigo Frans que veio da Holanda para me ver e me levar ao meu próximo destino. É assim.