O IMPERATIVO DO “MAS PODERIA SER MELHOR”

Desde crianças fomos treinados a “melhorar algo”. É um imperativo. É um modo operandis. Principalmente as escolas nos infiltram essa lógica e entendemos que é preciso “buscar melhorias”.

Sua nota foi boa, mas poderia ser melhor.
Seu desempenho foi bom, mas poderia ser melhor.
Sua alimentação está boa, mas poderia ser melhor.
Sua palestra foi ótima, mas poderia ser melhor.
Suas vendas arrasaram, mas poderia ser melhor.
Seu corpo está saudável, mas poderia estar melhor.
Seus cabelos estão lindos, mas poderiam estar melhor.
Seu relacionamento está em paz, mas poderia estar melhor.

O estímulo por “melhorar” sempre nasce de um comparativo. Vejo a realidade do agora, vejo o que poderia ser o “ideal” e faço essa conta que é mais ou menos assim:

Equação: SITUAÇÃO IDEAL MENOS SITUAÇÃO AGORA = O QUE PRECISA MELHORAR

Quando eu monto a equação do que precisa melhorar, eu preciso necessariamente colocar a “situação agora” em comparativo com a “situação ideal” e portanto nunca tenho um resultado positivo.

É lógico que poderia estar melhor. Tudo poderia estar melhor. E aí mora a grande crueldade desse discurso. É como olhar lá na frente, olhar lá no futuro, criar uma idealização do que poderia estar melhor e trazer para o presente – esse presente que não tem como ser diferente, que é como é, que é exatamente como está.

É uma lógica cruel porque desvaloriza o presente, retira a completude do momento AGORA e enxerga a parte que falta (essa que faria da coisa uma coisa melhor) ao invés da parte que há. O estímulo por melhorar, inevitavelmente, não valoriza integralmente o presente e o agora.

A idealização do futuro melhor comparado ao agora só nos tira as forças e nos impede de realmente avançar no próximo passo, porque nos retira o solo onde pisam os nossos pés e de onde nasce o próximo movimento.

Os workshops de constelação familiar do Andrei Moreira me ensinaram sobre o quanto o MAS, numa frase, tem o poder de eliminar tudo o que veio antes dele. E sempre que dizemos “mas poderia ser melhor”, é como se descartássemos (ou diminuíssemos) o valor do que há agora, do que é, do que somos nesse instante.

Sim, um mundo de coisas poderiam estar melhor. Absolutamente tudo poderia estar melhor.

Aqui mora uma solução e uma forma de equilibrar o que realmente queremos ao nos dizer “melhora”. Nossa intenção é DESENVOLVER. Ou seja, se intencionarmos desenvolver adotamos uma postura bem diferente e aí sim fortalecedora.

Porque é muito diferente quando nos alinhamos com o aprimoramento e o desenvolvimento constante. O aprimoramento não nasce do comparativo com a idealização, nasce da valorização do presente, da apropriação completa do agora, do entendimento pleno do lugar que você ocupa e da pergunta pró-ativa, feita ao momento presente, sobre o que é possível fazer AGORA. Daí vem a solução para essa equação. Ao invés de a mente criar um comparativo com o futuro, ela se apropria do PRESENTE e a partir dele eu escolho o próximo passo em direção ao rumo que sinto ser de desenvolvimento para mim a partir daquele instante.

Estamos em constante aprimoramento. Enxergar isso nos fortalece e valoriza. Podemos sempre intencionar nos aprimorar, aprender algo, transformar algo, mergulhar mais profundo em nós mesmos.

O estímulo do “melhorar”, ao contrário de ser fortalecedor para esse aprimoramento, se torna um peso, tira a força, estressa, gera ansiedade, frustração e a constante sensação de não estarmos prontos nem sermos bons o suficiente NUNCA. Enquanto o estímulo do “desenvolver” olha o momento presente, valoriza o lugar do agora e se pergunta “qual é o próximo passo a partir do lugar que estou”.

Por aqui meu cuidado tem sido o de tirar o peso, de liberar essa constante busca por melhorar e me sentir o mais presente possível no que há agora em mim, do que é o hoje e do quanto o que é possível para hoje já é maravilhoso, me perguntando todos os dias quais os meus próximos passos em direção ao que entendo como desenvolvimento para mim.

Paula Quintão
14 de junho de 2018

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