O CAÇADOR DE SONHOS

Era uma orquestra, tal qual as outras tantas orquestras desse mundo afora,  regida por seu maestro, com um repertório de belas músicas clássicas, e músicos com os olhos a brilhar. Mas essa não era uma orquestra qualquer. Era uma orquestra mágica. Incrível. Encantada. Porque diante daquele maestro, entre os olhos que brilham, as notas musicais se formavam de instrumentos que vieram do lixo. Instrumentos feitos de sucata, descartes, peças inúteis que, de mão em mão, chegaram ao lixão de Cateura, uma pequena cidade do Paraguai.

O mesmo Vivaldi. O mesmo Bach. O mesmo Beethoven. E uma outra concepção de toda a beleza que há por trás dessas melodias delicadamente compostas por esses gênios da música. A concepção de um sonho distante que vira realidade.

O maestro da banda concebeu o projeto para crianças e adolescentes de uma região muito carente em Cateura, filhos de catadores de lixo, e sensibilizou aquelas pessoas com o poder da transformação, o poder de ver possibilidade onde ninguém via, o poder de construção. Hoje viajam o mundo e enchem de emoção as plateias que os assistem.

Entre cada uma das notas tocadas, o mais importante e tocante: o despertar belíssimo para o quanto é possível ir além quando queremos. Não há limites para quem deseja. Não há limites para a criação humana. O homem pode ser incrível.

E bem acho que estamos aqui  no mundo para sermos mesmo incríveis. Para doarmos o que for possível. Para encher as pessoas ao nosso redor de amor. Para confiar na bondade humana. Para compartilhar saberes. Para sonhar junto e construir mundos que não são privados, mundos que são de todos. Para caminhar de mãos dadas. Para sermos muito positivos sobre os novos dias. Para transformarmos nosso mundo-casa em um mundo a cada dia melhor. Para nos libertarmos das vaidades, dos apegos, dos ciúmes, da inveja, do “querer ser melhor que o outro”, e trabalhar nossa humildade no nível mais elevado que pode haver, valorizando cada pessoa, cada iniciativa, cada tijolo colocado na parede do novo mundo.

Eu acredito. E caminho, cada dia mais, nessa direção. Que a cada passo eu possa ouvir a linda nona sinfonia de Beethoven tocando atrás de mim ao som das cordas de sucata. Assim eu acreditarei em sonhos impossíveis. E isso é incrível.

Paula Quintão. 12/07/2013

 

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