Há três anos uma grande amiga que as trilhas do Monte Roraima trouxe para minha vida me escreveu um e-mail para contar que tinha conhecido Piracanga. Em poucas linhas descreveu a magia do lugar e se despediu com uma ordem muito simples “você TEM que ir lá, vai escrever outro livro”.
Acreditei na Flávia na mesma hora e desejei, a partir daquele instante, que os ventos me levassem a Piracanga. E ao longo dos últimos três anos, entre idas e vindas, aquele pontinho no mapa, ao sul da Bahia, banhado pelo mar e entrecortado pelo rio, ficou no meu horizonte, esperando, pacientemente, o momento de se tornar realidade.
Pois o momento chegou. Junho de 2015. Marquei no calendário, entrei no site dezenas e dezenas de vezes conferindo a programação, reservei orçamento, ajeitei passagem e me liberei por 12 dias dos meus movimentos para ir ao retiro de leitura de aura.
“Piracanga tem rio, tem mar, tem floresta”, era o que eu repetia para mim mesma e para quem me perguntava onde eu estava indo. Minha única expectativa era estar em Piracanga, nada mais, só estar… o que quer que estivesse reservado para esses dias se revelaria.
E assim eu fui. E ao chegar a Piracanga, tudo o que eu dizia era… “estou impressionada”, porque não havia palavras ou frases longas para sintetizar o que eu vivia naquela ecovila de simplicidade única.
A dimensão de beleza de tudo o que se passa naquelas terras e águas nos toca profundamente e nos faz olhar para vida enxergando outras cores, outros sons, outros brilhos.
As belezas de Piracanga vamos enxergando pouco a pouco, como num despertar…
No restaurante, o amor impregna cada grão. Uma comida livre de qualquer origem animal nos alimenta com sabores salgados e doces que pousam macio no paladar viciado a gostos da indústria.
Na vida em comunidade cada um é responsável por sua parte. Coisas muito simples como lavar seu próprio prato e talheres depois das refeições são cultura que simplesmente flui. As crianças de Piracanga, quando vão ao shopping, ficam procurando onde podem lavar seus pratos.
As mulheres grávidas são deusas em Piracanga. As crianças são pingos de luz e de Deus, correm livres e têm escola que respeita suas individualidades, desperta sua divindade, ensina limites e explora habilidades naturais, estimula e vive o amor incondicional.
Os sonhos são ouvidos. E por isso mesmo se transformam em realidade.
Os jovens têm voz e sua força criativa é valorizada. Meninos e meninas, com seus cabelos raspados, se abraçam e dançam, tocam violão e rodopiam, sorriem com sorriso largo e são pura vida. Em Piracanga não tem álcool, não tem maconha, não tem drogas, e teve, na primeira noite que estive por lá, balada até alta madrugada.
O viver de luz e os jejuns curativos são conhecidos por todos e a alimentação prânica e liquida não são nenhum mistério. Todos sabem que processos de jejum não são atentados contra sua vida, ao contrário, você está se conectando, profundamente, com sua essência e com seu ser divino, se alimentando da mais pura energia viva.
O silêncio ganha respeito total e tudo bem você não falar com ninguém dias e dias. Isso não é entendido como rejeição ou como falta de educação sua, é o seu silêncio e ele é respeitado e compreendido com amor.
O rio chega ao mar e o mar se mistura com o rio.
Os pés ficam descalços e nos misturamos com a terra.
As danças circulares movem os pés, as mentes, as energias. Ao conectar as mãos, conectam também as almas e fazem cruzar os olhos acostumados a se esquivar. As danças circulares surgem entre tímidos e terminam entre irmãos de alma.
E as leituras de aura nos levam ao mais alto nível de relação que podemos ter com essa vida e com a nossa essência. As leituras de aura abrem a porta para uma vida de amor puro e pleno, uma ferramenta para enxergar, trazer luz, curar e transformar.
Piracanga nos ensina a ver. Eu não quero dizer “ver” no sentido figurado, não quero dizer “ver” para substituir “entender”. Quando eu digo “ver” estou usando o verbo “ver” com toda a sua propriedade literal, quero dizer exatamente ver com esses olhos que Deus nos deu.
Piracanga nos ensina a ver o mundo que está em nós… o mundo que está no outro.
Piracanga nos ensina a ver o amor em todos os lugares, em cada um, em cada canto. Piracanga nos ensina a ver o outro em nós e nós no outro. A ver que as partes são um todo e que o todo nunca será somente a soma das partes.
Piracanga nos ensina a ver as profundezas, nos ensina a ver abismos dentro de nós que merecem ser preenchidos com amor e luz, a ver caminhos não percorridos que esperam pelos nossos passos. Piracanga nos ensina a ver… e quando eu digo “ver”… quero dizer ver mesmo.
E ao nos ensinar a ver, Piracanga nos leva a um novo tempo, a uma nova dimensão dessa existência que está dentro de todos nós… sempre esteve e nunca percebemos. “Sempre esteve e nunca percebemos”… impressionante é como não percebemos.
Sou uma escritora e as palavras pedem para sair de mim e ganhar o mundo… mas eu sei que nenhuma descrição será capaz de trazer Piracanga para você a não ser que você vá até aquele pontinho no mapa, ao sul da Bahia, banhado pelo mar e entrecortado por um rio. Não há descrição, nem vídeo, nem música, que dê conta do mundo que Piracanga reserva. O único jeito é ir até lá e sentir com seu olfato, seu tato, seu olhar, sua alma inteira e se impressionar com o mundo que sempre esteve aí dentro e você nunca percebeu. Piracanga nos ensina a ver.
Paula Quintão
Que texto lindo Paula. É perceptível em cada palavra a Paz, o Amor, e sua Alegria ao escrevê-lo, e que cada palavra saltou direto de sua alma. Lindo. Parabéns.! 🙂
Fazendo as malas em 3 2 1…
Sabia da existencia desse lugar, vi sites e vídeos, mas esse relato realmente mostra o que podemos encontrar lá.
Lindo lindo!!
Que coisa mais linda! Tentando descobrir onde era e você simplesmente já esteve neste lugar mágico, e segue para lá novamente! Já feliz com as flores que irão brotar das sementes trazidas de Piracanga. Luzes. Paz.